Quando uma máquina síncrona é usada como motor, espera-se que ao ser conectada a uma fonte de energia ela consiga dar a partida como faz uma máquina DC ou um motor de indução. Entretanto, um motor síncrono não possui essa capacidade. Se os campos dos polos são excitados pela corrente de campo e os terminais do estator são conectados a um fonte de energia AC, o motor síncrono não partirá; pelo contrário, ele começará a vibrar.
Cabe ressaltar que essas máquinas são chamadas de síncronas por que elas giram em uma velocidade e frequência constante e de acordo com a frequência do sistema de alimentação.
Uma máquina síncrona possui no estator os três enrolamentos das fases, distribuídos de forma a estarem defasados 120° eletricamente. O enrolamento
do estator, no qual é conectada a fonte de tensão AC, é também chamado de enrolamento de armadura. É projetado para suportar altas tensões e altas correntes.
No rotor está instalado o enrolamento de campo, o qual é alimentado com corrente DC. O enrolamento de campo
é alimentado por uma fonte externa DC através de anéis coletores e escovas.
As máquinas síncronas podem ser divididas em dois grupos:
Máquinas de alta velocidade com rotores cilíndricos ( ou polos não-salientes).
Máquinas de baixa velocidade com rotores de polos salientes.
Quando uma máquina síncrona é usada como motor, espera-se que ao ser conectada a uma fonte de energia ela consiga dar a
partida como faz uma máquina DC ou um motor de indução. Entretanto, um motor síncrono não possui essa capacidade.
Se os campos dos polos são excitados pela corrente de campo e os terminais do estator são conectados a um fonte de energia
AC, o motor síncrono não partirá; pelo contrário, ele começará a vibrar. Podemos dizer que uma máquina síncrona
é duplamente excitada; os polos do rotor são alimentados por uma corrente DC, enquanto seus enrolamentos no estator
são alimentados por uma fonte AC.
O fluxo no entreferro da máquina é o resultado do fluxo fornecido pelo enrolamento do rotor e o enrolamento do estator.
Assim, se em um motor síncrono o enrolamento de campo do rotor fornecer
apenas a excitação necessária, o estator não consumirá corrente reativa, isto é, o motor está operando com um fator de
potência unitário. Se a corrente no enrolamento do rotor é reduzida, o enrolamento do estator drenará uma corrente
reativa atrasada da fonte AC para reforçar a magnetização no entreferro.
Caso contrário, isto é, se aumentarmos a excitação no enrolamento do rotor, o enrolamento do estator drenará uma corrente
reativa adiantada da fonte AC para compensar o aumento do fluxo no entreferro. Desta forma, apenas variando a corrente no
campo podemos variar o fator de potência do motor síncrono.
Se não há carga acoplada ao eixo do motor síncrono e ele simplesmente flutua em um sistema de potência, ele tanto
pode se comportar como um indutor ou como um capacitor, simplesmente alterando-se a corrente de campo no rotor.
Uma máquina síncrona sem carga é chamada de condensador síncrono. Pode perfeitamente ser usada em sistemas de
alimentação de potência para regular a tensão de linha. Na indústria, ele pode operar junto à motores de indução no modo
sobreexcitado
para drenar uma corrente reativa adiantada, de tal forma possa compensar a corrente reativa atrasada consumida pelos motores
de indução. Com isso, há uma significativa melhora no fator de potência do parque industrial.
Cabe ressaltar que essas máquinas são chamadas de síncronas por que elas giram em uma velocidade e frequência
constante e de acordo com a frequência do sistema de alimentação.
Basicamente, para uma máquina síncrona trifásica realizar seu movimento giratório, há necessidade de se produzir um
campo indução magnético trifásico rotativo ou girante. Para tanto, alimentamos as três fases do motor com uma rede trifásica equilibrada,
simétricamente dispostos e defasados de 120° elétricos entre si. Essas condições sendo satisfeitas, produzirão um campo indução magnético constante, em módulo, já que sua fase varia a todo instante. Neste item vamos analisar de que forma conseguimos essa condição.
Toda nossa análise está baseada na Figura 106-01. Essa figura mostra o gráfico das três fases defasadas de 120°
entre si. Com o objetivo de mostrar a formação detalhada do campo girante, providenciamos a divisão do ângulo de 360°
em 12 linhas verticais defasadas de 30° entre si.
Por outro lado, vamos denominar o campo indução magnético gerado pela fase A como BA. De
forma similar, para a fase B como BB e para a fase C como BC.
Vamos analisar como é formado o fasor resultante, inicialmente para o ângulo de 0°. Note que, neste caso,
o valor do campo indução magnético da fase A, é nulo (BA = 0). Porém, no caso das
fases B e C, seus valores são diferentes de zero e, em módulo, valem 0,866Bmax ,
conforme gráfico acima. Note que eles possuem sinais contrários. Então, levando isso em consideração, podemos traçar
um gráfico onde será possível entender a formação do campo indução magnético girante.
Na Figura 106-02 mostramos a formação do campo indução magnético resultante. Observe que ele é o resultado da soma
fasorial de BC com - BB. Preste atenção ao fato que o comprimento dos fasores
BC e - BB estão limitados pelo círculo em preto, indicando que o valor do fasor
é igual a 0,866 Bmax.
Como o fasor BB está 120° atrasado em relação à BA, então é claro que o
fasor - BB
deve estar adiantado de 180° - 120° = 60° em relação à BA.
Estabelecido essas considerações, neste momento, devemos encontrar o valor do fasor resultante. Observe que os dois fasores,
- BB e BC, estão fazendo um ângulo de 30° com a vertical. Lembrando que
|- BB| = |BC| = 0,866 Bmax , facilmente
calculamos o fasor resultante, BR, usando um pouco de trigonometria. Acompanhe, abaixo, o cálculo:
BR = 0,866 Bmax cos (30°) + 0,866 Bmax cos (30°)
Note que a primeira parcela é a projeção do módulo de - BB sobre o eixo vertical. E a segunda parcela
é a projeção do módulo de BC também sobre o eixo vertical. Sobre o eixo horizontal as duas componentes cancelam-se,
já que possuem sinais opostos. Portanto, efetuando o cálculo da expressão acima, lembrando que cos 30° = 0,866,
chegamos ao resultado do fasor resultante, ou
eq. 106-01
Portanto, concluímos que o fasor resultante é, em módulo, igual a 1,5 Bmax.
Cabe salientar que para ωt = 0° o fasor resultante forma um ângulo de 90° com a horizontal.
Agora, vamos calcular o fasor resultante para valores de ωt diferente de zero.
Aprecie a Figura 106-03 onde mostramos a formação do fasor resultante para ωt = 30°,
ωt = 60° e ωt = 90°. Observe que independente do ângulo considerado, o valor do fasor resultante,
BR, em módulo, é sempre igual a 1,5 Bmax.
Mas, o leitor deve estar atento ao fato que o ângulo do fasor resultante se altera à medida que aumentamos
o ângulo de observação. E mais: como estamos usando a sequência direta ou positiva,
observe que o fasor resultante está girando no sentido horário. Facilmente concluímos que
se usarmos a sequência inversa ou negativa, o fasor resultante gira no sentido anti-horário.
Alguns autores, em seus livros, desejam mostrar que o fasor resulante BR gira no sentido anti-horário.
Embora definam as fases na sequência direta, ao elaborarem o gráfico utilizam a sequência inversa, pois esta sequência é a que permite que o fasor resultante seja anti-horário. Neste site, optamos por mostrar que usando a sequência direta o fasor resultante
gira no sentido horário.
Tenha em mente que para encontrarmos o valor do fasor resultante para ωt = 30°, usamos a trigonometria,
lembrando que |-BB| = Bmax, BC = 0,5 Bmax e
BA = 0,5 Bmax. Então, podemos escrever
BR = Bmax + 0,5 Bmax cos (60°) +
0,5 Bmax cos (60°)
Levando em consideração que 0,5 Bmax cos (60°) = 0,25 Bmax, então o resultado final é
eq. 106-01
Ou seja, mais uma vez constatamos que o módulo do fasor resultante possui um valor constante igual a 1,5 Bmax .
Na Figura 106-04 estamos mostrando a formação do fasor girante quando ωt = 120°,
ωt = 150° e ωt = 180°. Deste momento em diante vamos apresentar os gráficos da
formação do fasor girante, sem muitas explicações adicionais, já que os gráficos, por si só, são auto-explicativos.
Por uma questão de didática, e por esse assunto não constar na maioria dos livros que tratam sobre máquinas, mostraremos
todos os doze gráficos para que o leitor entenda como se processa a formação do campo girante. É de extrema importância
a compreensão desta parte para que o leitor possa entender como uma máquina pode entrar no processo de rotação.
Na verdade, apresentamos 13 gráficos, incluindo o de ωt = 360° para que o leitor perceba que o
primeiro e o décimo terceiro gráfico são absolutamente iguais, mostrando um giro completo do fasor girante.
Para os ângulos subsequentes haverá uma repetição do mostrado acima. Tenha em mente que aqui apresentamos os treze
principais ângulos para termos um completo entendimento de como o fasor resultante gira 360°. É claro que
para um sistema de potência que opera em uma frequência de rede de 60 Hz, o fasor girante executará 60
giros completos por segundo. Se a frequência fosse 50 Hz, então seriam 50 giros completos por
segundo. E assim por diante.
Como afirmamos anteriormente no item 3(para ver clique aqui!), o motor síncrono não tem a
capacidade de partir simplesmente aplicando as tensões de trabalho. Lembre-se que o rotor do motor síncrono é constituído por várias lâminas de ferro-silício
justapostas até formar um considerável volume. Como consequência, esse rotor possui uma massa de valor razoável. Isso gera um momento de inércia. E,
como sabemos, para alterar a inércia de um corpo devemos aplicar uma força de modo adequado. Quanto maior o momento de inércia, maior deve ser o valor da força.
Imaginemos um motor síncrono em repouso. Conectamos uma tensão DC no enrolamento de campo e um conjunto trifásico de tensões AC no enrolamento
do estator produzindo um fluxo magnético trifásico de correntes nos enrolamentos. Como estudamos no item anterior, esse procedimento criará um campo indução
magnético uniforme girante, que chamaremos de BS. Assim, há dois campos magnéticos presentes na máquina e o campo do rotor tenderá
a se alinhar com o campo do estator. Como o campo magnético do estator está girando, o campo magnético do rotor (e o próprio rotor) tentará constantemente se
alinhar. Quanto maior for o ângulo entre os dois campos magnéticos (até um certo valor máximo), maior será o conjugado no rotor da máquina.
O rotor do motor está parado e, portanto, o campo magnético produzido pelo rotor, o qual denominaremos por BR, está estacionário.
O campo magnético BS do estator está girando
dentro do motor na velocidade síncrona. Porém, o motor síncrono não consegue dar a partida. Por quê?
Para entendermos o que está acontecendo, vamos analisar a equação do conjugado induzido na máquina pelos dois campos magnéticos existentes. A equação é
apresentada abaixo. Veja a eq. 106-02.
eq. 106-02
Onde as variáveis envolvidas são:
τind - Conjugado ou torque induzido na máquina;
K - Constante construtiva da máquina;
BR - Campo indução magnético do rotor;
BS - Campo indução magnético do estator.
Observe que nessa equação, há um produto vetorial. A eq. 106-03 apresenta essa mesma equação em sua forma escalar.
eq. 106-03
Onde as variáveis envolvidas são:
τind - Conjugado ou torque induzido na máquina;
K - Constante construtiva da máquina;
BR - Campo indução magnético do rotor;
BS - Campo indução magnético do estator.
θ - Ângulo entre BR e BS
Vamos começar nossa análise supondo uma rede com frequência de 60 Hz e observando a Figura 106-07.
Nessa figura mostramos o rotor com seu enrolamento de campo e a defasagem entre o campo indução magnético do rotor,
BR, e o campo indução magnético do estator, BS, para diferentes
instantes de tempo. Estamos supondo que o rotor da máquina está parado.
No instante t = 0 s, ao ligarmos as tensões nos enrolamentos, temos os dois fasores dos campos alinhados,
isto é, o ângulo entre eles é 0°. Para calcularmos o torque induzido usamos a eq. 106-03. Porém, sabemos
que sen 0° = 0. Logo, concluímos que o valor do torque induzido, nesse instante, é nulo.
No instante t = 1/240 s, o campo do estator, BS, está 90° adiantado em relação
ao campo do rotor BR. Nesse caso, sen 90° = 1 e temos um torque induzido. Conforme a regra
da mão direita, o torque está entrando na página.
Para o caso t = 2/240 s, vemos que o ângulo entre os dois fasores vale 180°. E como sen 180° = 0, então o
torque é nulo.
E no instante t = 3/240 s, o ângulo entre os fasores é 270° e como sen 270° = -1, então temos um torque
induzido e conforme a regra da mão direita o torque está saindo da página.
Após essa análise, percebemos que os tempos são muito curtos e não é possível o rotor acompanhar a velocidade do fasor do
campo indução do estator devido a inércia do sistema. E como consequência do que foi dito acima, podemos afirmar que em um ciclo elétrico o
torque médio pode ser considerado nulo. Como resultado, o motor vibra, não produzindo giro e, além disso, ele sobreaquece.
Então a pergunta é: Como dar partida em um motor síncrono ?
Para responder essa pergunta, existem três alternativas conforme descrito abaixo.
Redução da velocidade do campo indução magnético do estator;
Usar uma máquina motriz externa;
Usar enrolamentos amortecedores.
Vamos estudar separadamente cada uma das alternativas.
Se o campo magnético do estator de um motor síncrono girar em uma velocidade suficientemente baixa, não haverá problemas para que o rotor acelere e entre em sincronismo com o campo magnético. A velocidade do campo magnético do estator poderá
então ser aumentada gradualmente até atingir uma velocidade próxima à de sincronismo. Durante esse processo não se deve colocar carga no eixo do motor. A partir desse momento, é possível desligar o sistema de frequência variável e ligar o enrolamento do estator ao sistema trifásico de potência. Agora, é possível adicionar carga ao eixo do motor.
Atualmente, os controladores de estado sólido para motor podem ser usados para converter uma frequência constante de entrada em qualquer
frequência desejada de saída. Com o desenvolvimento dos modernos pacotes de acionamento (drive packages) de frequência variável em estado sólido, tornou-se perfeitamente possível controlar continuamente a frequência elétrica aplicada ao motor, percorrendo
todos os valores desde uma fração de hertz até acima da frequência nominal total. Se
tal unidade de acionamento de frequência variável estiver incluída em um circuito de
controle do motor para se ter controle da velocidade, a partida do motor síncrono torna-se muito fácil. Basta ajustar a frequência para um valor muito baixo de partida
e, então, eleve-a até a frequência de operação desejada para um funcionamento normal.
Quando um motor síncrono opera em uma velocidade inferior à velocidade nominal, sua tensão gerada interna
EA será menor do que a normal. Se o valor
de EA for reduzido, então a tensão de terminal aplicada ao motor também deverá ser
reduzida para manter a corrente de estator em níveis seguros. A tensão em qualquer
acionador ou circuito de partida de frequência variável deve variar de forma aproximadamente linear com a frequência aplicada.
O conversor de frequência é uma unidade de custo alto e devemos analisar com cuidado seu emprego. No entanto, se o motor síncrono tiver que operar em velocidades variáveis, este método é recomendado.
O segundo método de dar partida a um motor síncrono é acoplando-o a um motor de
partida externo e levando a máquina síncrona até a velocidade nominal com o motor externo. A seguir,
a máquina síncrona pode ser colocada em paralelo com o sistema de
potência como gerador e o motor de partida pode ser desacoplado do eixo da máquina. Ao atingir
a velocidade nominal o motor de partida pode ser desligado. Uma vez que a entrada em paralelo esteja completa, então o motor
síncrono poderá receber carga de forma normal.
O motor de partida precisa superar apenas a inércia da máquina
síncrona a vazio. Nenhuma carga é aplicada até que o motor entre em paralelo com o
sistema de potência. Como apenas a inércia do motor precisa ser superada, o motor de
partida pode ter uma característica nominal muito menor do que a do motor síncrono
no qual ele está dando a partida.
Em muitos motores síncronos, desde médio até grande porte, um motor externo
de partida ou o uso da excitatriz podem ser as únicas soluções possíveis, porque os
sistemas de potência aos quais eles estão ligados não são capazes de lidar com as
correntes de partida necessárias para que enrolamentos amortecedores possam ser
usados. Enrolamentos amortecedores são nosso próximo assunto.
O modo mais popular de dar partida a um motor síncrono é empregando enrolamentos amortecedores. Esses enrolamentos
são barras especiais colocadas em ranhuras abertas na face do rotor de um motor síncrono e, em seguida, colocadas
em curto-circuito em cada extremidade por um grande anel de curto-circuito.
Assuma inicialmente que o enrolamento do campo principal do rotor está desligado e que um conjunto trifásico de
tensões é aplicado ao enrolamento do estator dessa máquina.
Quando a potência é inicialmente aplicada no tempo t = 0 s, assuma que o campo indução
magnético BS é vertical. Quando o campo indução magnético BS
gira em sentido anti-horário, ele induz uma tensão nas barras do enrolamento amortecedor que é dada pela eq. 106-04.
eq. 106-04
Onde as variáveis envolvidas são:
εind - Tensão induzida na barra;
v - Velocidade da barra relativa ao campo indução magnético;
B - Campo indução magnético;
L - Comprimento da barra imersa no campo indução magnético.
Assim, quando o rotor está girando induz uma tensão entre os extremos da barra. Esta tensão nas barras gera uma corrente que produzirá um campo indução magnético, que denominaremos por BW, que vai interagir com
o campo indução magnético do estator. Desta forma, vai surgir um conjugado induzido resultante nas barras (e no rotor) de sentido anti-horário. O valor do conjugado é dado pela eq. 106-02, já estudada (acima). Continuando com a análise, vamos concluir
que, ora o campo indução magnético é nulo, ora ele é diferente de zero, porém aponta sempre no mesmo sentido. Isso
faz com que o torque médio sobre o rotor seja diferente de zero. Portanto, o rotor tem condições de sair do repouso e ganhar velocidade. É importante entender que o rotor não consegue atingir a velocidade síncrona, isso por que se o rotor está girando na mesma velocidade do campo indução magnético do estator, a velocidade relativa entre o rotor e BS
é zero. Ora, se a velocidade relativa é nula, então pela eq. 106-04 a tensão induzida nas barras será nula, não gerando o campo indução magnético BW. Obviamente, pela eq. 106-02 o torque será nulo e não haverá motivos para o rotor continuar girando.
Em uma máquina real, os circuitos dos enrolamentos de campo não podem ficar em circuito aberto
durante o procedimento de partida, pois caso isso aconteça, tensões muito
elevadas seriam produzidas neles durante a partida. Se os enrolamentos de campo
forem colocados em curto-circuito durante a partida, tensões perigosas não serão produzidas e, na realidade, a corrente de campo induzida nele contribuirá com um conjugado adicional à partida do motor.
Então, é possível dar partida em um motor síncrono com barras amortecedoras seguindo o seguinte procedimento:
1 - Desligue os enrolamentos de campo de sua fonte de potência CC e coloque-os
em curto-circuito.
2 - Aplique uma tensão trifásica ao estator do motor e deixe o rotor acelerar até
próximo da velocidade síncrona. Nenhuma carga deverá estar sendo aplicada ao
eixo do motor, para que sua velocidade possa se aproximar da velocidade síncrona tão próximo
quanto possível.
3 - Ligue o circuito de campo CC à sua fonte de potência. Após fazer isso, o motor
atingirá a velocidade síncrona e, então, cargas poderão ser aplicadas ao seu eixo
5.4 Enrolamentos Amortecedores e Efeito naEstabilidade do Motor
Uma das características importantes dos enrolamentos amortecedores é uma melhora significativa na estabilidade do motor.
O campo magnético do estator gira a uma velocidade constante nsinc, que se altera
somente se a frequência do sistema sofrer alguma variação. Se o rotor girar na velocidade nsinc,
os enrolamentos amortecedores não terão nenhuma tensão induzida. Se o rotor girar
mais devagar do que nsinc, então haverá movimento relativo entre o rotor e o campo
magnético do estator e uma tensão será induzida nos enrolamentos. Essa tensão produz um fluxo de corrente, o qual produz um campo magnético.
A interação dos dois
campos magnéticos produz um conjugado que tende a aumentar a velocidade da máquina novamente. Por outro lado, se o rotor girar
mais rapidamente do que o campo
magnético do estator, então será produzido um conjugado que tentará reduzir a velocidade do rotor. Então, o conjugado produzido
pelos enrolamentos amortecedores
acelera as máquinas lentas e desacelera as máquinas rápidas.
Portanto, esses enrolamentos tendem a amortecer a carga e outros transitórios
da máquina. Por essa razão, esses enrolamentos são denominados enrolamentos
amortecedores. Tais enrolamentos também são usados em geradores síncronos que
operam em paralelo com outros geradores de barramento infinito. Nesse caso, os enrolamentos são utilizados em uma função similar de
estabilização. Caso ocorra uma
variação de conjugado no eixo do gerador, seu rotor momentaneamente acelerará ou
desacelerará e essas mudanças sofrerão oposição pelos enrolamentos amortecedores.
Esses enrolamentos melhoram a estabilidade total dos sistemas de potência pela redução dos transitórios de potência e conjugado.
Os enrolamentos amortecedores são responsáveis pela maioria da corrente subtransitória de uma máquina síncrona em condição de falta
elétrica. Um curto-circuito
nos terminais de um gerador é simplesmente uma outra forma de transitório e os
enrolamentos amortecedores reagem muito rapidamente a ele.
Um motor síncrono é o mesmo que um gerador síncrono sob todos os aspectos, exceto pelo fato de o sentido do fluxo de potência ser invertido. Como esse sentido é
invertido, pode-se esperar que o sentido do fluxo de corrente no estator também seja
invertido. Portanto, o circuito equivalente de um motor síncrono é exatamente o mesmo que o circuito equivalente de um gerador síncrono, exceto pelo fato de o sentido
de referência de Ia ser invertido. Podemos ver na Figura 106-08 o circuito equivalente de um motor
síncrono.
Naturalmente que um motor síncrono pode ser conectado na configuração delta ou estrela. Como Ia
mudou seu sentido, então as equações que governam o motor síncrono também mudam o sinal. Logo, temos:
eq. 106-05
eq. 106-06
Ou seja, são as mesmas equações estudadas para um gerador síncrono, diferindo apenas pelo sinal do termo da corrente.
E para determinar o valor de Ia, partindo da eq. 106-05 chegamos a eq. 106-07, abaixo.
eq. 106-07
O modelo elétrico de um motor síncrono é o mesmo do gerador síncrono, diferindo pelo sentido da corrente
Ia, pois esta é oposta no motor. Para ver com mais detalhes o modelo
clique aqui!.
Baseado na Figura 106-08 podemos traçar um diagrama fasorial do motor síncrono como é mostrado na
Figura 106-09
Baseado no diagrama fasorial mostrado na Figura 106-09 podemos escrever que:
eq. 106-08
Note que a eq.106-08 é uma forma alternativa da eq.106-06. O diagrama acima mostra que o ângulo de potência é negativo e,
por consequência, a potência real ou ativa também é negativa, significando que a máquina absorve potência da fonte de alimentaçao. É fácil
concluir que quanto menor o ângulo de potência, δ, menor será a transferência de potência real ou ativa.
Os motores síncronos fornecem potência às cargas, que basicamente são dispositivos que funcionam com velocidade constante. Usualmente, os motores são ligados a sistemas de potência que são muito maiores do que eles próprios, de modo que os
sistemas de potência atuam como barramentos infinitos para os motores.
Isso significa que a tensão de terminal e a frequência do sistema serão constantes, independentemente da quantidade de potência demandada pelo motor. A velocidade de rotação do
motor está sincronizada com a taxa de rotação dos campos magnéticos e, por sua vez,
a taxa de rotação dos campos magnéticos aplicados está sincronizada com a frequência elétrica aplicada, de modo que a velocidade do motor síncrono será constante independentemente da carga.
A curva característica de conjugado versus velocidade está mostrada na Figura 106-10. A velocidade de regime permanente do motor é constante desde a vazio até o conjugado máximo que o motor pode fornecer, de
modo que a regulação de velocidade desse motor é 0 %.
O torque em um motor síncrono é dado pela eq. 106-09. Note que o torque é diretamente proporcional ao seno do ângulo de potênca, δ.
eq. 106-09
Observe pela eq. 106-09, que o torque máximo ocorre quando o ângulo de potência δ é igual
a 90°, pois sen 90° = 1. Entretanto, os conjugados normais a
plena carga são muito inferiores a esse valor. De fato, o conjugado máximo pode ser
tipicamente o triplo do conjugado a plena carga da máquina.
Quando o conjugado no eixo de um motor síncrono excede o conjugado máximo, o rotor poderá perder o sincronismo com
o estator e os campos magnéticos líquidos. Em vez disso, o rotor começa a deslizar, ficando para trás. A perda de sincronismo depois que o conjugado máximo é excedido é conhecida como polos deslizantes.
Da eq. 106-09 e baseado na relação da eq. 105-08 (veja aqui!), podemos escrever a equação que calcula a potência convertida em potência mecânica no eixo do motor síncrono. Veja
a eq. 106-10, abaixo.
eq. 106-10
Sabemos que quanto maior a corrente de campo IF, maior será a tensão induzida EA e,
consequentemente, maior será o torque desenvolvido pelo motor. Isso é o que nos diz a eq. 106-09. Assim, é possível concluir
que há vantagens, do ponto de vista de estabilidade, quando se trabalha com elevadas corrente de campo IF ou,
consequentemente, com elevada tensão induzida EA.
Vamos supor um motor síncrono girando na velocidade síncrona com uma determinada carga, inicialmente com um fator de potência adiantado, como mostra a Figura 106-11. Nesse caso, o motor desenvolve um torque suficiente para manter o sistema
girando na velocidade síncrona.
Agora, vamos supor que houve um aumento na carga acoplada ao eixo do motor. Inicialmente, o motor reduzirá sua velocidade.
Ao fazer isso, o ângulo de conjugado δ torna-se maior e o conjugado induzido aumenta. O incremento
no conjugado induzido acelerará o motor, que voltará a girar na velocidade síncrona,
mas com um ângulo de conjugado maior.
A tensão interna gerada EA, dada pela eq. 102-02 (veja aqui!),
mostra que a tensão interna somente depende da corrente de campo (pois tem influência no valor do fluxo Φ) e da
velocidade da máquina. A velocidade
está condicionada a ser constante pelo sistema de alimentação e, como não houve mudanças no circuito de campo, a corrente de campo
também é constante. Portanto, |EA| deve ser constante quando a carga é alterada.
No gráfico mostrado na Figura 106-12, os comprimentos proporcionais à potência (EA sen δ e
Ia cos θ) aumentarão, mas o módulo de EA deverá permanecer constante. Quando a carga aumenta,
EA move-se para baixo conforme mostra o gráfico. Quando EA move-se mais e
mais para baixo, o termo j XS Ia deve aumentar para que possa ir da extremidade de EA
até VT e, consequentemente, a corrente de armadura Ia também aumentará. Observe
que o ângulo θ (ângulo entre Ia e VT) do fator de potência também se altera,
tornando-se cada vez menos adiantado e, em seguida, cada vez mais atrasado.
De tudo que foi apresentado aqui, pode-se concluir quanto aos efeitos do aumento de carga, sob condições de excitação
constante (desprezando-se os efeitos da reação de armadura), que:
1 - Conforme a carga mecânica cresce, a corrente de armadura Ia aumenta, independentemente da excitação.
2 - Se o motor síncrono está sobre ou subexcitado, seu fator de potência tende a se aproximar da unidade
com o aumento da carga.
3 - Quando o motor está sobre ou subexcitado, a variação do fator de potência é maior que a variação na
corrente de armadura Ia com a aplicação da carga.
4 - Quando o motor está normalmente excitado, a variação na corrente de armadura Ia
é maior que a variação no fator de potência quando aumenta-se a carga, e o fator de potência tende a colocar
a corrente de armadura mais em atraso.
10. Mudanças na Corrente de Campo em um MotorSíncrono
Em um motor síncrono há uma outra grandeza que pode ser ajustada facilmente, ou seja, sua corrente de campo. Imaginemos
um motor síncrono operando inicialmente com um fator de potência atrasado, situação 1 conforme a Figura 106-13.
Agora, vamos aumentar a corrente de campo e ver o que acontece. Observe que um aumento na corrente de campo gera uma elevação no módulo de EA, mas não afeta a potência ativa fornecida ao motor.
A potência fornecida ao motor muda somente quando o conjugado
de carga no eixo varia. Como uma mudança em IF não afeta a velocidade do eixo do motor
e, como a carga acoplada ao eixo não se altera, a potência ativa fornecida não varia.
Naturalmente, VT também é constante, porque ela é mantida assim pela fonte de potência que alimenta o motor. Os comprimentos proporcionais à potência no diagrama
fasorial (EA sen δ e Ia cos θ) devem, portanto, ser constantes. Quando a corrente de
campo é aumentada, a tensão EA deve crescer, mas ela só pode fazer isso seguindo a
linha de potência constante. Esse efeito está mostrado na Figura 106-13.
Motor Síncrono Subexcitado
Quando a projeção do fasor tensão interna EA sobre VT (EA cos δ) é menor do que o próprio VT, um motor síncrono tem uma corrente de armadura atrasada e consome potência reativa Q. Neste caso, a corrente de campo IF é pequena e dizemos que o motor está subexcitado.
Isto quer dizer que o motor síncrono é uma combinação de indutor e resistor (caso de EA1 e
Ia1 no gráfico acima).
Motor Síncrono Sobre-excitado
Quando a projeção do fasor tensão interna EA sobre VT (EA cos δ) é maior do que o próprio VT, um motor síncrono tem uma corrente de armadura adiantada e consome potência reativa negativa - Q ou, o que é o mesmo, fornece potência reativa Q ao sistema. Neste caso, a corrente de campo IF é grande e dizemos que o motor está sobre-excitado.
Isto quer dizer que o motor síncrono é uma combinação de capacitor e resistor (caso de EA3 e
Ia3 no gráfico acima).
Motor Síncrono com Excitação Normal
Quando a projeção do fasor tensão interna EA sobre VT (EA cos δ) é igual à VT, um motor síncrono tem uma corrente de armadura em fase com VT, e consome potência ativa P. Neste caso, a corrente de campo IF está em um valor intermediário entre os dois casos anteriores.
Isto quer dizer que o motor síncrono está operando como um resistor (caso de EA2 e
Ia2 no gráfico acima).
Considerações Finais
Um gráfico de Ia versus IF para um motor síncrono está mostrado na Figura 106-14.
Esse gráfico é denominado curva V de um motor síncrono, pela razão óbvia de que sua forma é como a letra V.
Há diversas curvas V desenhadas, correspondendo a
diferentes níveis de potência ativa. Para cada curva, a corrente de armadura Ia mínima
ocorre com o fator de potência unitário, quando somente potência ativa está sendo
fornecida ao motor. Em qualquer outro ponto da curva, alguma potência reativa também estará sendo fornecida para ou pelo motor. Para correntes de campo menores
do que o valor que corresponde a Ia mínima, a corrente de armadura está atrasada,
consumindo potência reativa Q. Para correntes de campo maiores do que o valor que corresponde a Ia
mínima, a corrente de armadura está adiantada, fornecendo potência reativa Q ao sistema de potência,
como um capacitor faria. Portanto, controlando a corrente de campo de um motor síncrono, poderemos controlar a potência reativa fornecida ou consumida pelo sistema de potência.
Um motor síncrono, adquirido para acionar uma carga, pode ser operado sobre-excitado, com a finalidade de fornecer potência
reativa Q para um sistema de potência. De
fato, antigamente comprava-se um motor síncrono para funcionar sem carga, simplesmente para realizar correção do fator de potência. O diagrama fasorial de um motor síncrono, funcionando sobre-excitado a vazio, está mostrado na Figura 106-15.
Como não há potência sendo retirada do motor, os comprimentos dos fasores proporcionais
à potência (EA sen δ e Ia cos θ) são nulos. Sabemos que pela lei das tensões de Kirchhoff para um motor síncrono, considerando que XS >> Ra, é dada por:
eq. 106-11
O termo j XS Ia apontará para a esquerda e, portanto, a corrente de armadura Ia
apontará para cima. Se VT e Ia forem examinados, a relação de tensão e corrente entre eles
será como a de um capacitor. Do ponto de vista do sistema de potência, um motor
síncrono a vazio sobre-excitado assemelha-se exatamente a um grande capacitor.
Alguns motores síncronos costumavam ser vendidos especificamente para correção do fator de potência. Essas máquinas tinham eixos que sequer chegavam a sair
da carcaça do motor e nenhuma carga podia ser acoplada a eles, mesmo que isso
fosse desejado. Esses motores síncronos de propósito especial eram frequentemente
denominados capacitores síncronos.
Atualmente, os capacitores estáticos convencionais são de custo mais econômico para se comprar e usar do que os capacitores síncronos. Entretanto, alguns capacitores síncronos podem ainda estar em uso em instalações industriais antigas.