Quando estudamos motores elétricos vimos que ao aplicar uma tensão CC nos terminais do motor, ele desenvolve
um torque dando origem ao movimento de rotação. Logo, transforma energia elétrica em energia mecânica. No caso
dos geradores, o processo é exatamente o inverso, ou seja, aplicamos um torque no eixo do gerador, por algum
meio mecânico, obtendo uma tensão elétrica em seus terminais. Da mesma forma que nos motores, nos geradores
também devemos aplicar uma tensão no enrolamento de campo para produzir um campo magnético. Assim, quando o gerador
entrar em movimento de rotação, as espiras que estão alojadas no rotor desenvolverão uma força magnetomotriz
(fmm) induzida, que obedece a lei de Faraday, e vamos denominá-la de EA. Esta tensão induzida, para aparecer nos terminais de saída do gerador, deve vencer a queda de tensão na resistência RA de armadura. Dessa forma, vamos obter uma tensão CC na saída do gerador, que vamos denominar de
Vg. Então, a equação que governa o funcionamento de um gerador elétrico
é expresso pela eq. 104-01.
eq. 104-01
Esta equação nos diz que a força magnetomotriz (fmm), ou EA, subtraída a queda de tensão na resistência do enrolamento de armadura
deve ser igual a tensão Vg que aparece nos terminais de saída do gerador. Dessa equação, podemos derivar mais duas, ou:
eq. 104-02
Esta equação nos permite calcular a força magnetomotriz (fmm) induzida na armadura quando conhecemos as outras variáveis.
eq. 104-03
Esta equação nos permite calcular a corrente de armadura. Note que todas essas equações são de fácil
compreensão se observarmos a Figura 104-01, onde apresentamos o circuito equivalente de um gerador CC
em uma configuração com excitação independente.
Observe que em comparação com o circuito equivalente de um motor, no caso do gerador, a corrente de armadura
IA está saindo pelo terminal positivo indo alimentar a carga conectada aos extremos dos terminais de saída
do gerador. No circuito do enrolamento de campo temos a mesma configuração de um motor. Vale salientar que para o caso do motor elétrico devemos dispor de duas fontes de tensão. Uma para alimentar o circuito do enrolamento de campo e outra para
alimentar a armadura. No caso do gerador, devemos ter só uma fonte de tensão para o circuito do enrolamento de campo.
A armadura do gerador se comporta como uma fonte de tensão.
Cabe ressaltar que em máquinas CC, como temos a presença das escovas em contato com o comutador, as quais conduzem a corrente de armadura, isso origina uma queda de tensão adicional no circuito de armadura. Esta queda de tensão, simbolizada por VB, deve ser subtraída na eq. 104-01, conforme explicita a eq. 104-04. Então,
dependendo do autor, alguns problemas farão menção à tensão VB. Em geral, caso não seja especificado em contrário,
a queda de tensão nas escovas é da ordem de 1 V a 2 V quando temos duas escovas operando em série
e podemos considerá-la independente da corrente de armadura.
eq. 104-04
Toda a teoria de motor elétrico CC é aplicável aos geradores. Portanto, agora vamos estudar as várias maneiras
de se conectar um gerador CC, como fizemos no capítulo referente aos motores.
Os quatro tipos básicos de geradores CC são os chamados geradores Excitação Independente, Shunt, Série e Composto. As diferenças
entre os tipos de geradores são devidos à maneira como é produzida a excitação do enrolamento de campo polar. Assim, como o
propósito do gerador é produzir uma tensão CC por conversão de energia mecânica em energia elétrica, uma porção desta tensão CC é utilizada para alimentar o enrolamento de campo magnético estacionário. Vamos estudar separadamente cada caso.
3.1 Gerador CC com Excitação Independente
Um gerador de excitação independente é um gerador cuja corrente de campo é suprida por uma fonte de tensão CC externa
separada. O circuito equivalente dessa máquina está mostrado na Figura 104-01. Nesse circuito, a tensão
Vg representa a tensão real medida nos terminais do gerador e a corrente IL representa a corrente que circula na carga conectada aos terminais de saída. A tensão gerada interna é EA e a corrente de armadura
é IA. Está claro que em um gerador de excitação independente a corrente de linha é igual à corrente de armadura,
conforme a eq. 104-05.
eq. 104-05
Observação Importante
"É interessante ressaltar que tanto os geradores quanto os motores, conseguem manter um mínimo de magnetismo em seus campos polares, normalmente
conhecido como magnetismo residual. Isso é devido ao magnetismo que permaneceu nos campos polares da máquina quando do desligamento da mesma.
Essa característica é muito importante em geradores, pois com um mínimo de campo o gerador consegue
apresentar uma tensão nos terminais de saída. Como estudaremos mais tarde, isso é fundamental para que alguns tipos de
geradores consigam funcionar satisfatoriamente mesmo sem excitação no enrolamento de campo."
A tensão de saída de um gerador CC de excitação independente pode ser controlada mudando a tensão interna gerada pela máquina,
ou seja, EA. Pela lei de Kirchhoff das tensões,
temos a eq. 104-01, onde Vg = EA - RA IA. Assim, se EA aumentar, então Vg aumentará e, se EA diminuir,
Vg diminuirá. Como a tensão interna gerada EA é dada pela eq. 103-11 onde EA = K Φ ω há
dois modos possíveis de controlar a tensão desse gerador:
1 - Alterar a velocidade de rotação - Se ω aumentar, então EA aumentará conforme a
eq. 103-11, de modo que Vg também aumentará.
2 - Alterar a corrente de campo - Aumentando a corrente de campo através da diminuição da resistência de campo
RF, o fluxo da máquina cresce. Quando isso
acontece, EA também deve crescer, de modo que Vg aumenta.
Como a tensão gerada interna EA é independente de IA, a característica de saída do
gerador de excitação independente é uma linha reta, como está representada pela linha vermelha na Figura 104-02.
Isso acontece quando o gerador não tem carga (a vazio) ou ela é muito pequena.
O que acontece em um gerador desse tipo quando a carga é aumentada? Quando
a carga fornecida pelo gerador é aumentada, IL (e portanto IA) aumenta. À medida que
a corrente de armadura sobe, a queda RA IA cresce, de modo que a tensão de saída
do gerador cai, conforme indica a linha azul na Figura 104-02.
Em muitas aplicações, a faixa de velocidade da máquina motriz é bem limitada, de modo que é mais comum controlar
a tensão de saída pela variação da corrente de campo.
Essa característica de saída nem sempre é inteiramente exata. Em geradores
sem enrolamentos de compensação, um aumento em IA causa elevação da reação de
armadura, a qual leva a um enfraquecimento de fluxo. Isso causa uma diminuição em
EA, o que diminui mais ainda a tensão de saída do gerador. Em todos os gráficos
futuros, assumiremos que os geradores têm enrolamentos de compensação, a menos
que seja expresso o contrário. Entretanto, é importante ter em conta que, se os enrolamentos de compensação não estiverem presentes, a reação de armadura poderá modificar as características.
Como a tensão interna gerada de um gerador é uma função não linear de sua força
magnetomotriz, não é possível calcular de forma simples o valor de EA esperado
para uma dada corrente de campo. A curva de magnetização do gerador deve ser
usada para calcular com exatidão sua tensão de saída para uma dada tensão de
entrada.
Além disso, se uma máquina tiver reação de armadura, então seu fluxo será
reduzido a cada incremento de carga, fazendo EA diminuir. A única maneira de se
determinar com exatidão a tensão de saída em uma máquina com reação de armadura
é pelo uso de análise gráfica.
Na Figura 104-03 vemos um gráfico onde temos uma resistência pura como carga, ZL. O ponto de interseção entre a reta de Vg e a reta de ZL, determina o valor da corrente na carga.
A força magnetomotriz (fmm) total de um gerador de excitação independente é a força
magnetomotriz do circuito de campo menos a força magnetomotriz devido à reação
de armadura, conforme a eq. 104-06.
eq. 104-06
Como ocorre com os motores CC, costuma-se definir uma corrente de campo equivalente, representada por IFeq, como a corrente que produziria a
mesma tensão de saída como resultado da combinação de todas as forças magnetomotrizes presentes na máquina. A tensão
resultante EA0 pode ser determinada localizando a corrente de campo equivalente sobre a curva de magnetização. A
corrente de campo equivalente de um gerador CC de excitação independente é dada por:
eq. 104-07
Não esquecendo que a diferença entre a velocidade na curva de magnetização e a velocidade real do gerador deve ser levada em consideração usando a eq. 103-21, repetida abaixo.
eq. 103-21
Para fixar estes conceitos é importante ver o problema 104-02clicando aqui!
Quando alimentamos o enrolamento de campo através de toda (ou quase toda) a tensão de linha produzida entre as escovas
da armadura, o gerador CC é chamado Gerador Shunt. A Figura 104-04 mostra o digrama completo de um gerador shunt.
O rotor, onde fica localizado o enrolamento de armadura, é representado pelos seguintes componentes: uma fonte de tensão induzida EA, que possui um valor conforme a eq. 104-02; uma resistência
RA do enrolamento de armadura; e uma resistência RB (não representada na figura) representando a resistência de contato entre as escovas e o comutador. Desta forma, o circuito completo de armadura consiste no enrolamento de armadura
(que é a parte móvel) e dois enrolamentos opcionais, ou seja, o enrolamento de compensação LC e o enrolamento dos interpolos Li, ambos localizados no estator e fixos. O enrolamento de compensação LC apresenta uma resistência que vamos denominar por RC e o enrolamento dos interpolos Li apresenta uma resistência que vamos denominar por Ri. O circuito equivalente mostrado na Figura 104-04 pode ser simplificado se agregarmos os valores das quatro resistências em série por uma única, que denominaremos de RAS.
Logo, RAS = RA + RB + RC + Ri.
Lembrando que as indutâncias LC e Li não interferem, pois para corrente contínua elas
representam um curto-circuito, ou seja, resistência nula.
Veja na Figura 104-05 essa nova representação.
Pela Figura 104-05 claramente percebemos que os três circuitos, aqui representados pelo circuito de armadura, o circuito de campo e a carga, estão em paralelo. Nesse circuito,
a corrente de armadura da máquina alimenta ambos, o circuito de campo e a carga
ligada à máquina. Logo, pelo circuito concluímos que, para um gerador shunt, vale a relação
mostrada na eq. 104-08.
eq. 104-08
Também devemos ressaltar que pelo fato dos três circuitos se encontrarem em paralelo, as tensões sobre cada um são as mesmas, ou seja VA = Vg = VL. Então, as correntes no circuito são facilmente calculadas
conforme a eq. 104-03, eq. 104-09 e eq. 104-10. Abaixo, mostramos essas três equações.
eq. 104-03
eq. 104-09
eq. 104-10
Tenha em conta que na eq. 104-10, a carga ZL pode ser uma carga puramente resistiva ou, uma carga complexa.
E para este tipo de gerador é válida a eq. 104-01, ou seja:
eq. 104-01
Esse tipo de gerador tem uma vantagem evidente sobre o gerador CC de excitação independente porque não há necessidade de uma fonte de alimentação externa para o circuito de campo. No entanto, isso deixa uma questão importante sem resposta:
quando é dada a partida, como ele consegue o fluxo inicial de campo para gerar EA, se ele próprio supre a corrente de campo?
Vamos considerar o caso inicial em que o gerador não tem uma carga conectada aos terminais de saída. Suponha que ao eixo do gerador está acoplado uma máquina motriz, como um motor elétrico ou ou motor a diesel, e este põe o eixo do gerador em rotação.
A pergunta é: como é gerada a tensão inicial nos terminais de saída do gerador?
A produção inicial de uma tensão em um gerador CC depende da presença de
um fluxo residual nos polos do gerador. Inicialmente, quando um gerador começa a
girar, uma tensão interna será induzida, sendo dada pela eq. 103-11, mostrada abaixo para maior clareza.
eq. 103-11
Neste caso, estamos considerando Φ como um fluxo residual que existe nos campos polares do gerador,
como já foi explicado anteriormente ( para ver clique aqui!)
Dessa forma, a tensão EA surge nos terminais do gerador (pode ser apenas um ou dois volts). No
entanto, quando isso ocorre, essa tensão faz circular uma corrente na bobina de campo do gerador, dada pela eq. 104-09.
Essa corrente de campo produz uma força magnetomotriz nos polos, aumentando o fluxo neles. O incremento de fluxo causa um aumento
em EA, o que aumenta a tensão de terminal Vg. Quando Vg sobe, IF
cresce ainda mais, aumentando o fluxo Φ, o que aumenta EA, gerando
um processo em cadeia que só acaba quando a tensão da saída atinge o valor nominal estipulado de acordo com a curva de saturação magnética
das faces polares.
É esse efeito da saturação magnética das faces polares que impede o crescimento contínuo da tensão de saída do gerador.
Na partida, o que acontece se um gerador em derivação arranca e nenhuma tensão
inicial é produzida? Que poderia estar errado? Há diversas causas possíveis para que
a tensão inicial não seja produzida durante a partida. Vamos enunciar três possíveis causas. Sejam elas:
1 - Pode não haver fluxo magnético residual no gerador. Isso impedirá que o processo de escorvamento
tenha início. Se o fluxo residual for nulo, então
teremos EA = 0 e a tensão nunca começará a ser produzida. Se ocorrer esse
problema, desligue o campo do circuito de armadura e conecte-o diretamente
a uma fonte CC externa, tal como uma bateria. O fluxo de corrente dessa fonte
CC externa deixará um fluxo residual nos polos, possibilitando então uma partida normal. Portanto, esse procedimento consiste em aplicar
diretamente ao campo uma corrente CC durante um breve período de tempo.
2 - Pode ter ocorrido uma inversão do sentido de rotação do gerador ou pode ter
havido uma inversão nas ligações do campo. Em ambos os casos, o fluxo residual ainda gera uma tensão interna EA. Essa tensão produz uma corrente de
campo que, por sua vez, induz um fluxo tal que, em vez de se somar, se opõe ao
fluxo residual. Nessas circunstâncias, o fluxo resultante diminuirá de intensidade, ficando na realidade abaixo do fluxo
residual sem induzir nenhuma tensão.
Se esse problema ocorrer, ele poderá ser corrigido invertendo o sentido de
rotação, invertendo as ligações, ou ainda aplicando brevemente ao campo uma
corrente CC tal que inverta a polaridade magnética.
3 - O valor da resistência de campo pode ser ajustado para um valor maior do
que o da resistência crítica. Para compreender esse problema, consulte a Figura
104-06. Normalmente, a tensão inicial do gerador em derivação subirá até o ponto
onde a curva de magnetização intersecta a reta da resistência de campo. Se essa
resistência de campo tiver o valor R2 da figura, sua reta será aproximadamente paralela à curva de magnetização. Nesse caso, a tensão do gerador poderá
flutuar amplamente com apenas mínimas alterações de RF ou IA. Esse valor de
resistência é denominado resistência crítica. Se RF exceder a resistência crítica
(como em R3 na figura), a tensão de operação de regime permanente ocorrerá
basicamente em nível residual e nunca subirá. A solução para esse problema
está em reduzir RF.
Como a tensão da curva de magnetização varia em função da velocidade do
eixo, a resistência crítica também variará com a velocidade. Em geral, quanto menor
for a velocidade do eixo, menor será a resistência crítica.
Para compreender a análise gráfica dos geradores shunt é fundamental lembrar a lei de Kirchhoff das tensões (LKT) já estudadas e
representadas pelas equações eq. 104-01 e eq. 104-02, repetidas abaixo para maior compreensão.
A característica de saída de um gerador CC shunt (ou derivação) é diferente da de um
gerador de excitação independente, porque a corrente de campo da máquina depende
de sua tensão de saída. Para compreender a característica de saída de um gerador shunt, vamos começar uma narrativa
considerando que a máquina começa sem carga (a vazio) e aos poucos acrescentamos carga a ela.
À medida que a carga do gerador aumenta, IL cresce e, portanto, IA
também cresce. Uma elevação de IA aumenta a queda de tensão IA RA na resistência de
armadura, fazendo Vg diminuir, conforme a eq. 104-01. Esse comportamento é precisamente
o mesmo observado em um gerador de excitação independente. Entretanto, quando
Vg diminui, a corrente de campo IF da máquina diminui junto. Isso faz o fluxo da
máquina diminuir, reduzindo também EA. A queda em EA causa uma nova diminuição na
tensão de terminal Vg. A característica de saída resultante está mostrada na Figura 8-52. Observe que a queda de tensão é mais acentuada do que simplesmente a queda IA RA do gerador de excitação independente. Em outras palavras, a regulação de tensão desse gerador é pior do que a do mesmo tipo de equipamento em
que a excitação é conectada em separado.
Como no gerador de excitação independente, há dois modos para controlar a tensão
de um gerador CC em derivação, quais sejam:
1 - Alterar a velocidade ω do eixo do gerador.
2 - Alterar a resistência de campo RF do gerador, variando assim a corrente de campo.
A variação da resistência de campo RF é o método principal usado para controlar
a tensão de saída dos geradores shunt reais. Se a resistência de campo RF
for diminuída, então a corrente de campo IF subirá. Quando IF aumenta,
o fluxo da máquina também sobe, fazendo a tensão interna gerada EA aumentar.
O incremento em EA faz com que a tensão de saída Vg do gerador também aumente.
A análise de um gerador CC shunt (ou derivação) é mais complexa do que a análise de um
gerador de excitação independente, porque a corrente de campo da máquina depende
diretamente da própria tensão de saída da máquina. Então, primeiramente vamos fazer uma análise para
máquinas sem reação de armadura e, depois, incorporamos os efeitos da reação de armadura.
Sem Reação de Armadura
A Figura 104-07 mostra uma curva de magnetização para um gerador CC em derivação desenhada para a velocidade real de funcionamento da máquina. A resistência de campo RF, que é simplesmente igual a Vg /IF, é a linha reta sobreposta à curva de
magnetização. A vazio, podemos escrever que Vg = EA e o gerador opera na tensão em que a curva de
magnetização intersecta a reta de resistência de campo.
Para compreender a análise gráfica dos geradores shunt é fundamental lembrar a lei de Kirchhoff das tensões (LKT) já estudadas e
representadas pelas equações eq. 104-01 e eq. 104-02. Vamos repetí-las abaixo para maior compreensão.
eq. 104-01
eq. 104-02
A diferença entre a tensão interna gerada EA e a tensão de saída Vg é simplesmente a
queda RA IA da máquina. A linha com todos os valores possíveis de EA é a curva de
magnetização e a linha com todos as tensões possíveis de saída Vg é a reta de resistência. Portanto, para encontrar a tensão de saída para uma dada carga,
simplesmente determine a queda RA IA e localize no gráfico o lugar onde essa queda
se encaixa exatamente entre a curva EA e a reta Vg. Há no máximo dois lugares na
curva onde a queda RA IA irá se encaixar exatamente. Se houver dois locais possíveis, o
que estiver mais próximo da tensão a vazio representará um ponto de funcionamento normal.
Com Reação de Armadura
Se houver reação de armadura presente em um gerador CC em derivação, esse
processo irá se tornar um pouco mais complicado. A reação de armadura produz uma
força magnetomotriz desmagnetizante no gerador ao mesmo tempo que ocorre uma
queda RA IA na máquina.
Para analisar um gerador com reação de armadura, assuma que sua corrente
de armadura é conhecida. Então, a queda de tensão resistiva RA IA será conhecida. A
tensão de saída desse gerador deve ser suficientemente elevada para suprir o fluxo
do gerador depois que o efeito desmagnetizante da reação de armadura foi subtraído.
Para atender essa exigência, a força magnetomotriz da reação de armadura e a queda RA IA devem se encaixar entre a curva EA e a reta Vg. Para determinar a tensão de
saída correspondente a uma dada força magnetomotriz, simplesmente localize o lugar
abaixo da curva de magnetização onde o triângulo formado pelos efeitos da reação de
armadura e de RA IA encaixam-se exatamente entre a reta de possíveis valores de Vg e
a curva de possíveis valores de EA. Veja a Figura 104-07.
Quando a excitação é produzida por um enrolamento de campo ligado em série com a armadura, de modo que o fluxo
produzido seja função da corrente de armadura e da carga, o gerador CC é chamado gerador série. A Figura 104-08 mostra o digrama completo de um gerador série. O campo série é excitado apenas quando a carga é ligada completando o
circuito. Como o enrolamento de campo deve suportar toda a corrente de armadura, é construído com poucas espiras de fio com uma bitola que suporte essa corrente, ou seja, um fio grosso (grande diâmetro). Então, como a corrente
de plena carga circula pelo campo, deve-se projetar esse campo em série para ter
a menor resistência possível.
Note que a corrente de armadura, a corrente de campo e a corrente de linha têm todas o mesmo valor,
ou seja:
eq. 104-11
Por outro lado, a lei de Kirchhoff das tensões para o gerador série é:
eq. 104-12
Como no caso anterior, o enrolamento de compensação, Rc, localizado entre os polos,
e o enrolamento interpolar, Ri, estão incluídos em série com o enrolamento de armadura. Essa
resistência total, quando se tratar de uma configuração série, denominamos de Ras. As outras variáveis já
são conhecidas.
A curva de magnetização de um gerador CC série assemelha-se muito à curva de
magnetização de qualquer outro gerador. A vazio, entretanto, não há corrente de campo, de modo que Vg
se reduz a um nível bem baixo devido ao fluxo residual presente
na máquina. À medida que a carga cresce, a corrente de campo sobe, de modo que
EA eleva-se rapidamente. A queda de tensão IA (RA + Ras ) também aumenta, mas inicialmente o aumento de EA resulta mais rapidamente do que o aumento na queda
IA (RA + Ras ) e, consequentemente Vg sobe. Depois de um tempo, a máquina aproxima-se da saturação e EA torna-se quase constante. Nesse ponto, a queda resistiva
passa a ser o efeito predominante e Vg começa a cair.
Esse tipo de característica está mostrado na Figura 104-09. É óbvio que essa máquina se mostraria como uma
fonte de tensão constante bem ruim. De fato, sua regulação de tensão é um número elevado negativo.
Os geradores em série são usados apenas em algumas poucas aplicações especializadas, nas quais a característica de
queda acentuada de tensão do dispositivo
pode ser explorada. Uma dessas aplicações é a soldagem a arco elétrico. Os geradores
em série usados na soldagem a arco são projetados intencionalmente para ter uma
reação de armadura elevada.
Assim, quando os eletrodos de soldagem fazem contato
entre si antes que se inicie propriamente a soldagem, uma corrente muito elevada
circula. Quando o soldador afasta os eletrodos, há uma elevação muito acentuada na
tensão do gerador, ao passo que a corrente permanece elevada. Essa tensão assegura
que um arco de soldagem seja mantido através do ar entre os eletrodos.
Quando a excitação do enrolamento de campo é produzida por uma combinação das duas configurações estudadas acima, ou seja,
enrolamento de campo shunt excitado pela tensão de armadura (item 3.2) e o enrolamento de campo série excitado
pela corrente de armadura ou corrente de linha (item 3.3), o gerador CC é denominado gerador composto.
No caso do gerador composto é possível se estabelecer dois tipos de conexões, usualmente denominadas de
composto cumulativo e composto diferencial. Um gerador CC composto cumulativo é um gerador CC que tem os campos em série LS e em derivação LF conectados de tal forma que as forças magnetomotrizes dos dois somam-se.
A Figura 104-10 mostra o circuito equivalente de um gerador CC composto cumulativo na conexão de derivação longa. Os pontos ou marcas que aparecem nas duas bobinas de campo têm o mesmo significado que os pontos em um transformador: a corrente que entra pela extremidade com ponto da bobina produz uma força magnetomotriz positiva.
Observe que a corrente de armadura entra pela extremidade com ponto da bobina de campo em série e que a corrente
IF de derivação entra pela extremidade com ponto da bobina de campo em derivação. Portanto,
a força magnetomotriz total nessa máquina é dada por
eq. 104-13
Onde as variáveis envolvidas na eq. 104-13 significam
Fliq - força magnetomotriz total presente na máquina.
Fsh - força magnetomotriz do campo shunt (ou derivação).
Fse - força magnetomotriz do campo série.
FRA - força magnetomotriz da reação de armadura da máquina.
Observe que as forças magnetomotrizes do campo série e do campo shunt são somados, enquanto a reação de armadura é subtraída, concordando com a afirmação de que esta reação é desmagnetizante.
A partir da eq. 104-13 podemos encontrar a corrente equivalente efetiva do campo shunt (ou derivação),
ou IF eq, sabendo que F= N I. Desta forma, substituindo na eq. 104-13 e, após
um trabalho algébrico, encontramos:
eq. 104-14
Onde temos as variáveis
NSE - número de espiras do campo série.
NF - número de espiras do campo (de magnetização).
Olhando para o circuito equivalente mostrado na Figura 104-10, podemos inferir as seguintes equações para as correntes envolvidas no circuito.
A Figura 104-11 mostra o circuito de um gerador composto shunt curto. Observe que, diferentemente do shunt longo,
o shunt curto possui o enrolamento de campo situado entre o enrolamento de armadura e o enrolamento de campo série.
Isso faz com que o enrolamento de campo-shunt fique em paralelo com o circuito de armadura e o circuito de camppo
série está conectado em série com a carga. A equação eq. 104-15 também é válida para esta configuração.
Para compreender a característica de terminal de um gerador CC composto cumulativo, é necessário compreender os efeitos simultâneos que ocorrem dentro da máquina.
Suponha que a carga do gerador seja aumentada. Então, à medida que a carga
sobe, a corrente de carga IL sobe. Nesse caso, a corrente de armadura também aumenta. Logo, nesse ponto, ocorrem dois efeitos no gerador:
Quando IA aumenta, a queda de tensão IA (RA + RS )
também aumenta. Isso tende a causar uma diminuição na tensão de saída Vg, conforme a eq. 104-12.
Quando IA aumenta, a força magnetomotriz do campo em série
Fse = Nse IA
também aumenta. Isso incrementa a força magnetomotriz total
Fliq = NF IF + Nse IA
o que incrementa o fluxo no gerador. Esse fluxo aumentado no gerador
faz EA subir, que por sua vez, tende a elevar a tensão de saída Vg.
Esses dois efeitos são opostos entre si, com um tendendo a elevar Vg e o outro
tendendo a baixar Vg. Qual efeito será predominante em uma dada máquina? Tudo
dependerá de quantas espiras em série forem colocadas nos polos da máquina. Esta situação dá origem a três possíveis alternativas que ganham nome próprio. Vamos estudar separadamente cada situação.
Poucas espiras em série (Nse pequeno). Se houver apenas poucas espiras, o
efeito da queda de tensão resistiva facilmente prevalece. A tensão cai exatamente como em um gerador shunt (ou derivação), mas não tão acentuadamente. Veja a Figura 104-12, onde mostramos esse efeito. Esse tipo de configuração, em que a tensão de saída a plena carga é menor do que a tensão de saída a vazio, é denominado hipocomposto. Esse gerador possui uma característica de
melhor regulação de tensão que o gerador composto equivalente.
O gerador hipocomposto possui uma característica um pouco "mergulhante", semelhante à de um gerador shunt, mas com uma regulação melhorada. Se efetuarmos um curto-circuito nos terminais do campo série (Rd = 0, ver Figura 104-14) de um gerador cumulativo hipercomposto, ele atuará como um gerador shunt. Se a resistência do resistor de drenagem é aumentada um pouco, de modo a fluir uma pequena corrente através do campo série, qualquer gerador composto cumulativo atuará como hipocomposto. É por esta razão que os fabricantes fornecem apenas geradores hipercompostos e esperam que os consumidores ajustem o grau de compensação, usando um resistor de drenagem. Entenda-se por resistor de drenagem(Ver aqui!), um resistor ajustável adicionado em paralelo com o enrolamento de campo com o qual se quer alterar as características do gerador.
Mais espiras em série (Nse maior). Quando há algumas espiras a mais nos polos, inicialmente, o efeito do reforço de fluxo prevalece e a tensão de terminal
aumenta com a carga. Entretanto, à medida que a carga continua aumentando,
tem início a saturação magnética e a queda de tensão resistiva supera o efeito do
aumento de fluxo. Nessa máquina, inicialmente a tensão de terminal sobe e em
seguida cai à medida que a carga aumenta. Se Vg a vazio for igual a Vg a plena
carga, então o gerador será denominado normal. Esse gerador tem uma característica de regulação percentual zero.
Um gerador composto normal encontra uma aplicação similar ao hipercomposto, quando a queda de tensão na linha de
transmissão é desprezível e a carga está localizada na vizinhança imediata do gerador. Assim, obtemos uma tensão constante
sobre a carga, embora essa tensão não seja necessariamente constante, mas tem uma regulação negativa no ponto de meia carga
e regulação zero a plena carga.
Ainda mais espiras em série são acrescentadas (Nse grande). Se ainda mais
espiras forem acrescentadas ao enrolamento de campo série do gerador, então o efeito do reforço de
fluxo estará prevalecendo em uma faixa maior ainda, antes que a queda de tensão resistiva passe a predominar. O resultado é uma característica na qual a
tensão de saída de plena carga é mais elevada na realidade do que a tensão
de saída a vazio. Se a tensão Vg de plena carga exceder Vg a vazio, então o
gerador será denominado hipercomposto. Ou seja, a característica de regulação desse gerador é sempre negativa.
O gerador hipercomposto é o mais apropriado para a transmissão de energia elétrica CC quando a carga está remotamente localizada com relação ao gerador. A característica de elevação de tensão deste gerador é mais do que suficiente para compensar a queda de tensão na linha de transmissão. Um resistor de drenagem é usado para controlar e produzir uma elevação de tensão suficiente no gerador, para compensar as quedas de tensão nas linhas a plena carga. Como a queda de tensão na linha e a elevação de tensão ajustada, produzidas pelo campo série, são ambas proporcionais à corrente de carga, a tensão numa carga remota será substancialmente constante desde a vazio até a plena carga, tornando-se desnecessário o uso de reguladores de tensão.
Veja nos gráficos da Figura 104-13 todas as possibilidades estudadas.
Observação Importante
Também é possível dispor de todas essas características de tensão em um único
gerador se um resistor desviador for usado. A Figura 104-13 mostra um gerador CC
composto cumulativo com um número relativamente grande de espiras em série Nse.
Um resistor desviador de corrente, denominado resistor de drenagem, é ligado em
paralelo com o campo em série. Se o resistor de drenagem Rd for ajustado para um
valor elevado, a maior parte da corrente de armadura circulará através da bobina do
campo em série e o gerador será hipercomposto. Por outro lado, se o resistor Rd for
ajustado para um valor pequeno, então a maior parte da corrente circulará através de
Rd, paralelamente ao campo em série, e o gerador será hipocomposto. O resistor pode
ser ajustado de forma contínua, permitindo obter qualquer combinação desejada.
As técnicas disponíveis para o controle da tensão de terminal de um gerador CC
composto cumulativo são exatamente as mesmas técnicas usadas para o controle da
tensão de um gerador CC em derivação, ou seja:
Variar a velocidade de rotação - Um incremento em ω faz EA aumentar,
o que eleva a tensão de saída Vg
Variar a corrente de campo - Uma diminuição em RF faz IF aumentar,
o que eleva a força magnetomotriz total do gerador. Quando Fliq sobe, o fluxo
da máquina aumenta, o que eleva EA. Finalmente, um aumento em EA
faz Vg subir.
As equações eq. 104-16 e eq. 104-17 são a chave da descrição da característica de saída de
um gerador CC composto cumulativo. A corrente equivalente de campo em derivação
Ieq, devido aos efeitos do campo em série e da reação de armadura, é dada por
eq. 104-16
Portanto, a corrente efetiva total de campo em derivação da máquina é
eq. 104-17
Essa corrente equivalente Ieq corresponde a uma distância horizontal à esquerda
ou à direita da reta da resistência de campo (RF) ao longo dos eixos da curva
de magnetização, conforme pode ser visto na Figura 104-14.
A queda resistiva do gerador é dada por IA (RA + RS), o que é um comprimento
sobre o eixo vertical da curva de magnetização. Tanto a corrente equivalente Ieq quanto a queda de tensão resistiva IA (RA + RS) dependem do valor da corrente de armadura IA.
Portanto, elas formam os dois lados de um triângulo cujos valores são uma função
de IA. Para obter a tensão de saída, para uma dada carga, determine o tamanho do
triângulo e encontre o local onde ele se encaixa exatamente entre a reta da corrente de
campo e a curva de magnetização.
A tensão de terminal a vazio será o ponto no qual a reta da resistência e a curva de magnetização intersectam-se, como antes.
Quando uma carga é acrescentada ao gerador, a força magnetomotriz do campo em
série aumenta, elevando a corrente equivalente do campo em derivação Ieq e a queda de
tensão resistiva IA (RA + RS) da máquina. Para encontrar a nova tensão de saída desse
gerador, desloque o vértice, que está mais à esquerda do triângulo, ao longo da reta da
corrente do campo em derivação até que o vértice superior do triângulo toque a curva
de magnetização. Esse vértice superior representará a tensão interna gerada da máquina, ao passo que a linha inferior representa a tensão de saída da máquina.
Um gerador CC composto diferencial é um gerador que contém os campos em derivação e em série, mas, dessa vez, as suas forças magnetomotrizes subtraem-se entre
si. O circuito equivalente de um gerador CC composto diferencial está mostrado na Figura 104-15. Observe que agora a corrente de armadura está circulando para fora de
uma terminação de bobina com ponto, ao passo que a corrente do campo em derivação está circulando para dentro de uma terminação de bobina com ponto.
Nessa máquina, a força magnetomotriz líquida é
eq. 104-18
E a corrente equivalente do campo em derivação devido ao campo em série e à reação
de armadura é dada por
eq. 104-19
A corrente efetiva total do campo em derivação dessa máquina é dada pela equação já estudada, a eq. 104-17,
repetida abaixo para maior clareza.
eq. 104-17
Da mesma forma que o gerador CC composto cumulativo, o gerador composto diferencial pode ser ligado em derivação longa
ou em derivação curta.
No gerador CC composto diferencial, ocorrem os mesmos dois efeitos que estavam
presentes no gerador CC composto cumulativo. Dessa vez, no entanto, ambos os efeitos atuam no mesmo sentido. Eles são:
Quando IA aumenta, a queda de tensão IA (RA + RS) também aumenta.
Esse aumento tende a diminuir a tensão de saída Vg
Quando IA aumenta, a força magnetomotriz do campo em série Fse = Nse IA
também aumenta. Isso reduz a força magnetomotriz líquida do gerador Fse, o que por sua vez reduz o fluxo líquido do gerador. Esse fluxo
reduzido diminui EA, o que por sua vez diminui Vg.
Como ambos os efeitos tendem a reduzir Vg, a tensão diminui drasticamente
quando a carga é aumentada no gerador.
Mesmo quando as características de queda de tensão de um gerador CC composto
diferencial são muito ruins, ainda é possível ajustar a tensão de terminal para qualquer valor dado de carga.
As técnicas disponíveis para ajustar a tensão de terminal são
exatamente as mesmas que as usadas para os geradores CC compostos em derivação
e cumulativo:
Variar a velocidade de rotação - Um incremento em ω faz EA aumentar,
o que eleva a tensão de saída Vg
Variar a corrente de campo - Uma diminuição em RF faz IF aumentar,
o que eleva a força magnetomotriz total do gerador. Quando Fliq sobe, o fluxo
da máquina aumenta, o que eleva EA. Finalmente, um aumento em EA
faz Vg subir.
Observação
Os geradores CC em derivação e compostos dependem da não linearidade de
suas curvas de magnetização para produzir uma tensão de saída estável. Se a curva de
magnetização de uma máquina CC fosse uma linha reta, então a curva de magnetização
e a reta da tensão de linha do gerador nunca iriam se cortar. Consequentemente, a vazio,
não haveria tensão estável na saída do gerador. Como os efeitos não lineares estão no
centro do funcionamento do gerador, as tensões de saída dos geradores CC podem ser
determinadas somente por meios gráficos ou numericamente, usando um computador.