Para começar nossos estudos sobre Máquinas Elétricas, vamos introduzir algumas definições e estabelecer alguns
princípios básicos do Eletromagnetismo. Cabe ressaltar que existem vários tipos de motores, sendo que neste site estamos
interessados nos motores de Corrente Contínua, motores de Indução e nos princípios básicos dos motores
Síncronos. A partir do conhecimento destes tipos de motores, fica muito fácil entender os outros tipos existentes,
pois quase todos derivam-se de os mencionados acima.
O estudo do Eletromagnetismo traz consigo uma teoria bastante complexa se desejarmos ser exatos.
Por isso, na prática, é desejável tornar o problema mais simples, fazendo algumas simplificações que
levem à resultados bastantes satisfatórios e muito próximos dos valores exatos. Assim, por exemplo,
no estudo das Máquinas Elétricas, algumas grandezas são tais que o termo da corrente de
deslocamento nas equações de Maxwell pode ser desconsiderada sem prejuízo para o
resultado final. Este termo leva em
conta os campos magnéticos produzidos no espaço por campos elétricos variantes no tempo,
e muito associado à produção de ondas eletromagnéticas.
No decorrer deste estudo vamos nos deparar com várias definições e símbolos para designar as
variáveis. Assim, segue abaixo uma relação das principais.
H - Intensidade do Campo Magnético
B - Densidade do Fluxo Magnético (ou Indução Magnética)
μo - Permeabilidade Magnética no Vácuo
μr - Permeabilidade Magnética Relativa
F - Força Magnetomotriz
N - Número de espiras do Enrolamento
Ac - Área da seção transversal do núcleo
lc - Comprimento do circuito magnético
g - Comprimento do gap (folga) entre circuitos magnéticos
Φ - Intensidade do Fluxo Magnético
Para dar início ao estudo das máquinas elétricas, vamos começar introduzindo o conceito de uma
máquina Linear CC, pois segue os mesmos princípios e apresenta o mesmo comportamento dos
geradores e motores reais.
Basicamente, uma máquina linear CC consiste em uma bateria, um resistor e uma chave conectados a
um par de trilhos sem atrito.
É um dispositivo que converte energia elétrica em energia mecânica
através de um processo conhecido como indução eletromagnética. O princípio de funcionamento baseia-se na interação
entre o campo magnético e a corrente elétrica que flui na barra condutora, resultando em uma força que impulsiona
a barra ao longo dos trilhos. Este fenômeno é descrito pela Lei de Lorentz, que afirma que uma corrente elétrica,
quando exposta a um campo magnético, experimenta uma força perpendicular tanto à direção da corrente quanto à do
campo magnético.
Uma barra de metal condutora está assentada sobre os trilhos,
tendo liberdade de movimento ao longo dos trilhos. Um esquema básico dessa máquina é mostrada
na Figura 101-01.
A eficiência e o desempenho da máquina linear CC podem ser afetados por diversos fatores, incluindo a resistência
interna da bateria e do circuito, bem como a qualidade dos materiais utilizados na construção dos trilhos e da barra
condutora. Estudos e experimentos contínuos são realizados para otimizar essas máquinas para diversas aplicações,
como sistemas de transporte e atuadores em automação industrial.
O comportamento dessa máquina pode ser determinado a partir da aplicação de quatro equações básicas à máquina.
As equações são as seguintes:
1 - A equação da força induzida em um condutor na presença de um campo magnético, dada pela eq. 76-02,
já estudada no capítulo 76 e repetida aqui para maior clareza.
eq. 101-01
2 - A equação da tensão induzida em um condutor que se desloca na presença de um campo magnético.
eq. 101-02
3 - Lei de Kirchhoff das tensões para essa máquina. Da Figura 101-01, podemos escrever que
eq. 101-03
4 - Lei de Newton para a barra condutora assentada sobre os trilhos
eq. 101-04
Usamos essas quatro equações como ferramentas vamos analisar o comportamento básico dessa máquina CC.
Fechando a chave, estamos aptos a dar a partida a essa máquina. Assim, ao fecharmos a chave, haverá uma
corrente fluindo pelo circuito e podemos determinar seu valor empregando a lei de Kirchhoff das tensões,
ou seja
eq. 101-05
Inicialmente, a barra se encontra em repouso, logo εind = 0, e a equação mostrada acima se reduz a
I = V / R. Assim, a corrente fluirá para baixo através da barra e fecha o circuito através dos trilhos.
Porém, sabemos que uma corrente que circula por um fio condutor imerso em um campo magnético induz uma força
no fio, dada pela eq. 101-01. Relembrando, temos:
eq. 101-01
E essa força está direcionada para a direita. Portanto, pela lei de Newton, a barra acelerará para a direita.
Mas, ao acelerar, a barra ganha velocidade e será induzida uma tensão sobre ela. A polaridade positiva da
tensão induzida na barra está na parte superior da barra. Assim, a corrente flui pelo circuito no sentido horário.
Como vimos no item anterior, a tensão induzida, para o caso da Figura 101-01, é dada pela eq. 101-02.
Como a tensão induzida cresce devido ao movimento da barra, analisando a eq. 101-05 concluímos que
a corrente pelo circuito decresce. Ao final, como resultado dessa ação, a barra atingirá uma velocidade constante
de regime permanente, tal que a força líquida sobre a barra torna-se zero. Isso ocorrerá quando
εind tiver crescido até se igualar à tensão da bateria, V. A barra continuará a se deslocar
indefinidamente com a velocidade de regime permanente enquanto não houver carga, exceto se alguma força externa
venha a perturbá-la.
Esse é precisamente o comportamento observado na partida de motores reais.
Vamos assumir que inicialmente a máquina linear está operando em regime permanente sem nenhuma carga agindo sobre ela.
Agora vamos imaginar que seja aplicada uma força à barra, que denominamos Fcarga, no sentido de se opor ao
seu movimento. A aplicação dessa força resultará em uma força líquida sobre a barra com sentido oposto ao do movimento,
ou seja, Fliq = Fcarga - Ffio. Como consequência, a força fará a barra diminuir
sua velocidade.
Entretanto, tão logo a barra comece a perder velocidade, a tensão induzida na barra cai e a medida que a tensão induzida diminui,
o fluxo de corrente na barra aumenta, conforme a eq. 101-05. Assim, a força induzida na barra também cresce. O efeito
total de todos esses eventos é que a força induzida cresce até que se torna igual e oposta à força de carga e a
barra começa novamente a se deslocar em regime permanente, mas com uma velocidade menor.
Agora, há uma força induzida no sentido de movimento da barra. A potência também está sendo convertida da forma elétrica
para a forma mecânica de modo a manter a barra em movimento. E como a potência é convertida da forma elétrica para
a forma mecânica, então ela está operando como um motor. Podemos expressar essa potência da seguinte forma:
Se analisarmos o Problema 101-1 veremos que para produzir forças pequenas, da ordem de 20 N ou
30 N, usamos correntes elétricas de valor apreciável, tais como 30 A, associada a uma tensão elétrica da ordem de 120 V.
É claro que podemos aumentar o tamanho do comprimento do fio para obtermos forças maiores. Mas isso implica em aumentarmos o tamanho da máquina,
tornando quase inviável seu projeto. Outra opção seria aumentar o campo indução magnético, mas sabemos que os materiais magnéticos usados na
construção das máquinas elétricas saturam nas vizinhanças de um campo da ordem de 1 tesla. Logo, não é prático na vida real aumentarmos o campo
indução magnético para obtermos forças mais intensas.
Então, uma maneira mais prática é enrolar um longo fio em várias espiras, em um formato cilíndrico e colocá-lo a girar sob a ação de
um campo indução magnético de valor mais adequado, sem necessidade do material magnético trabalhar na zona de saturação. Assim, nos dias de hoje, a maioria
(mas nem todos) dos motores são no formato cilíndrico, onde facilmente geramos um torque e uma potência que pode ser controlada, seja por meios mecânicos,
elétricos ou eletrônicos.
Portanto, nos próximos capítulos abordaremos esse tipo de motor.