No capítulo referente a circuitos RC e RL em corrente contínua, vimos
que para a resolução do problema tínhamos que recorrer a equações diferenciais.
Para corrente alternada, vamos simplificar usando o conceito de fasor. Assim, usaremos
fontes na forma complexa e as impedâncias também. Isso faz com que, em impedâncias, a parte real
seja um resistor e a parte imaginária uma reatância. Dessa forma, tudo se passa como
se fossem associações de resistores e por isso podemos usar todos os teoremas
aprendidos anteriormente para corrente contínua. Então, lei de Ohm, teorema da superposição,
método nodal, teorema de Thèvenin e Norton, etc ... todos são válidos.
Aqui nosso foco será apenas em circuitos que contenham resistores e
capacitores. Iniciaremos com um circuito bem simples, como pode ser visto na Figura 53-01
onde temos uma fonte senoidal alimentando um circuito série formado por um resistor e
um capacitor.
Figura 53-01
Vamos assumir que estamos trabalhando em uma frequência como a utilizada no Brasil,
ou seja, f = 60 Hz. Assim podemos calcular o valor da frequência
angular ω.
Sabemos que ω = 2 π f = 377 rad/s.
Podemos agora calcular a reatância que o capacitor de 265 µF
oferece à circulação de uma corrente alternada de 60 Hz. Vamos
relembrar a equação que permite calcular a reatância de um capacitor.
XC = 1 / (ω C)
Fazendo a substituição numérica dos valores dos componentes, encontramos:
XC = 10 Ω
De posse desse valor podemos escrever a impedância do circuito
na forma retangular e na forma polar, ou:
Z = 10 - j 10 Ω ⇒ Z = 10 √2 ∠- 45° Ω
Aplicando a lei de Ohm, podemos facilmente determinar a corrente elétrica
que circula pelo circuito. Assim:
I = V / Z = 220 ∠ 0° / 10 √ 2 ∠ - 45° A
Efetuando o cálculo encontramos:
I = 15,56 ∠ + 45° A
Preste atenção para o fato que o ângulo + 45° significa que a corrente
está adiantada em relação à tensão. Fato já esperado. Quando isso acontece (corrente adiantada), dizemos que temos um
circuito capacitivo.
De posse do valor da corrente podemos calcular os valores de VR e
VC.
VR = R I = 10 15,56 ∠ +45° = 155,6 ∠ + 45° V
Como sabemos resistores não causam defasagens, VR está
absolutamente em fase com I. Já o mesmo não ocorre com a reatância capacitiva,
pois sabemos que capacitor defasa a corrente. Assim:
VC = XC I = 10 ∠- 90 x 15,56 ∠+45° V
Efetuando o cálculo, encontramos:
VC = 155,6 ∠- 45° volts
Na Figura 53-02 mostramos com fasores todas as grandezas calculadas. Perceba a corrente I adiantada 45° em relação à tensão aplicada,V. O mesmo ocorre com a tensão sobre o resistor, VR, pois resistor não defasa a corrente elétrica.
Por outro lado, temos a tensão sobre o capacitor, VC, atrasada de 45° em relação à fonte de tensão V e atrasada 45° + 45° = 90° em relação à corrente elétrica I. Repare como todas as grandezas calculadas analiticamente, se "encaixam" perfeitamente na análise gráfica.
Figura 53-02
Para finalizar vamos calcular o fator de potência do circuito. Como sabemos
que a corrente está 45° adiantada em relação à tensão, então o fator de
potência é:
FP = cos 45° = 0,71 capacitivo ou adiantado
Gostaríamos de chamar sua atenção para o seguinte fato: aumentando o valor da capacitância
do capacitor, sua reatância capacitiva diminui. Isto faz com que o ângulo de defasagem entre
corrente e tensão também diminua, tendendo o fator de potência para a unidade. Em outras palavras: em
corrente alternada, quanto maior o valor do capacitor, menos influência ele tem
no circuito. Como a reatância capacitiva depende de duas variáveis, C e ω,
isto quer dizer que se mantivermos a capacitância com um valor fixo, porém aumentarmos
consideravelmente o valor de ω, o resultado será o mesmo do exposto acima. Esta
característica será explorada quando estudarmos filtros.
E se fizermos o oposto, isto é, diminuirmos a capacitância ou a
frequência angular, obtemos o resultado inverso. Em outras palavras: o capacitor
terá grande influência no circuito e o fator de potência tende a zero. O exposto acima vale para um
circuito RC SÉRIE.
Vamos formar um circuito paralelo com os mesmos componentes utilizados no ítem anterior.
A corrente sobre o resistor não sofrerá defasagem. A corrente no capacitor estará adiantada
de 90° em relação à tensão. Então, a corrente que será fornecida pela fonte de tensão
será a soma fasorial das duas anteriores.
Figura 53-03
Veja na Figura 53-03 como ficou o circuito com os componentes em paralelo.
Já sabemos que ω = 2 π f = 377 rad/s, pois estamos assumindo
f = 60 Hz e também já conhecemos a reatância do capacitor de 265 µF, ou seja,
XC = 10 Ω.
O que devemos calcular agora é a impedância equivalente do resistor em
paralelo com o capacitor. Como foi dito anteriormente, podemos usar os mesmos princípios estudados para corrente
contínua para o cálculo da impedância equivalente. Assim, assumiremos a reatância como um
resistor e efetuaremos o cálculo como se fossem dois resistores em paralelo. Só
não esqueça que a reatância não é um número real. Então, podemos escrever:
Zeq = R jXC / (R + jXC )
Zeq = 10 (-j10) / (10 - j10)
Na equação abaixo, repare que transformamos - j10 em 10 ∠ -90° e também
10 - j10 em 10 √2 ∠ -45°. Logo:
Zeq = 100 ∠ -90° / 10 √2 ∠ -45°
Colocando no formato polar, numerador e denominador, fica muito fácil efetuar
o cálculo. Portanto, para a impedância equivalente encontramos:
Zeq = 5 √2 ∠ -45° = 5 - j5 Ω
Repare que ao colocar os componentes em paralelo, a corrente continua adiantada de 45°
em relação à tensão. Olhando para a impedância equivalente na forma retangular, verificamos que
representa uma impedância com dois componentes em série: um resistor de 5 ohms e
um capacitor com uma reatância de 5 ohms. Resumindo: um resistor de
5 ohms em série com um capacitor de 530 µF, comportar-se-ão eletricamente
como o circuito apresentado originalmente.
Já sabemos que o fator de potência é 0,71 adiantado. Então, para finalizar
vamos calcular as correntes no circuito.
IR = V / R = 220 ∠ 0° / 10 = 22 ∠ 0° A
IC = V / XC = 220 ∠ 0° / 10 ∠ -90° = 22 ∠ +90° A
I = V / Zeq = 220 ∠ 0° / 5√2 ∠-45° = 31,11 ∠+45° A
Uma outra maneira de calcularmos I é calcularmos a soma fasorial de
IR e IC.
Figura 53-04
Veja na Figura 53-04 que IR e IC estão defasados
de 90° entre si ou, como é comum dizer, estão em quadratura. Para calcularmos o
módulo de I nada mais óbvio que usarmos o teorema de Pitágoras. Então
escrevemos que |I| = √(|IR|2 + |IC|2).
Isso significa que |I| = √(222 + 222) = 31,11 ampère. Que é o resultado que encontramos anteriormente.
Para encontrarmos o ângulo, repare que os dois lados tem a mesma medida (22), logo formam um
quadrado e I é a diagonal do quadrado. Porém, sabemos que a diagonal de um quadrado
forma um ângulo de 45° com a base. Portanto, o resultado final é exatamente o mesmo quando aplicamos a lei de Ohm
para encontrar I, ou seja