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2 - Força Magnética em um Fio Percorrido por Corrente ElétricaClique aqui!
3 - Força Magnética entre dois Fios CondutoresClique aqui!
Toda a teoria estudada até este momento pode ser aplicada no estudo dos circuitos magnéticos.
Este estudo é o que permite projetos de transformadores, motores elétricos e outros dispositivos magnéticos.
O comportamento completo do campo magnético é descrito pelas equações de Maxwell (caso tenha interesse,
acesse Equações de Maxwell). Normalmente quando tratamos de
projetos e estudos sobre transformadores e maquinas elétricas, as frequências e as dimensões são tais que o
termo da corrente de deslocamento das equações de Maxwell podem ser desprezados, o que permite utilizar
a forma quase estática das equações. Neste capítulo vamos introduzir a diferença entre intensidade
de campo magnético, representada pela letra H e a chamada densidade de fluxo magnético,
representada pela letra B.
Para estudar os circuitos magnéticos vamos desprezar as perdas relativa aos campos magnéticos produzidos no espaço por campos elétricos variáveis e os termos associados com produção de radiação eletromagnética. Então, desprezando estes termos, podemos escrever as formas quase estáticas das equações de Maxwell, mostradas nas eq. 77-01 e eq. 77-02.
eq. 77-01
eq. 77-02
A eq. 77-01 significa que a integral de linha da intensidade do campo magnético, H,
ao redor do contorno fechado C é igual para a corrente total passando através de qualquer superfície S
fechando o contorno. Dessa equação, conclui-se que a fonte de H é a densidade de corrente, J.
A eq. 77-02 assegura que a densidade de fluxo magnético, B, é conservada, isto é, todo fluxo que
entra na superfície fechada, também sai, fazendo com que o fluxo líquido total seja nulo. Isto é equivalente
a dizer que não existem monopolos magnéticos.
Podemos dizer que um circuito magnético consiste de uma estrutura composta em grande parte de material
magnético de alta permeabilidade. A presença deste material faz com que o fluxo magnético fique confinado
dentro desta estrutura de acordo com sua geometria. Similar ao que acontece com as correntes elétricas que estão
confinadas dentro dos condutores elétricos.
Podemos entender melhor essas equações se aplicarmos a um exemplo básico, como o mostrado na Figura 77-01.
Temos um núcleo retangular com um enrolamento de N espiras de fio envolvendo uma das pernas do núcleo. Se o núcleo
for composto de ferro ou de outros materiais similares (normalmente denominados materiais ferromagnéticos), então
podemos afirmar que todo o campo magnético produzido pela corrente elétrica I, permanecerá dentro do núcleo.
De modo que na lei de Ampére o caminho de integração é dado pelo comprimento médio do caminho no núcleo,
designado por Ln. Logo, a corrente líquida que passa dentro do caminho de integração é N I,
pois a bobina cruza o caminho de integração N vezes quando está conduzindo a corrente I. Assim, podemos
escrever a lei de Ampère como:
eq. 77-03
onde as variáveis são:
H - magnitude ou módulo da intensidade do campo magnético.
Ln - comprimento médio do caminho no núcleo.
N - número de espiras do enrolamento.
I - intensidade da corrente elétrica.
Assim, conhecendo a corrente, o número de espiras e o comprimento do caminho magnético, podemos calcular
a intensidade do campo magnético, que é dado pela eq. 77-04.
eq. 77-04
Em certo sentido, a intensidade de campo magnético H é uma medida do “esforço” que uma corrente está fazendo
para estabelecer um campo magnético. A intensidade do fluxo de campo magnético produzido no núcleo depende também do material
do núcleo. A relação entre a intensidade de campo magnético H e a densidade de fluxo magnético resultante B
dentro de um material é dada por
eq. 77-05
onde as variáveis são:
H - magnitude ou módulo da intensidade do campo magnético, cuja unidade é A espira/metro.
μ - permeabilidade do meio material, cuja unidade é H / m.
B - densidade do fluxo magnético, cuja unidade é Wb / m2 ou Tesla.
A permeabilidade do vácuo é representada por μo e seu valor é
eq. 77-06
A permeabilidade de qualquer outro material quando comparada com a permeabilidade do vácuo é denominada
permeabilidade relativa. E podemos expressar essa relação através da eq. 77-07. Devemos salientar que a
permeabilidade relativa dos materiais magnéticos é muito elevada. Nas máquinas modernas são usados aços que
podem ter uma permeabilidade relativa entre 2.000 a 6.000, ou mesmo mais.
eq. 77-07
Em circuitos magnéticos, usa-se materiais como o ferro por apresentar uma permeabilidade magnética muito maior que a do ar,
fazendo com que a maior parte do fluxo magnético fique concentrado no interior do núcleo de ferro, em vez de se deslocar através
do ar circundante cuja permeabilidade é muito menor. Assim, metais
usados em núcleo de transformadores ou motores elétricos desempenham um papel extremamente importante no incremento e concentração
do fluxo magnético no dispositivo.
Em um núcleo, como o mostrado na Figura 77-01, o valor da densidade de fluxo magnético é dado por
eq. 77-08
Agora, o fluxo magnético total em uma dada área é dado por
eq. 77-09
Em que dA é a unidade diferencial de área. Se o vetor de densidade de fluxo magnético for perpendicular
a um plano de área A e se a densidade de fluxo for constante através da área, então essa equação se reduzirá
eq. 77-10
Assim, o fluxo total do núcleo da Figura 77-01, devido a corrente I no enrolamento, é
Quando estudamos circuitos elétricos, vimos que a lei de Ohm descrevia perfeitamente a relação entre tensão,
corrente e resistência elétrica. Assim, se no eletromagnetismo, observarmos que uma corrente elétrica que circula em uma
bobina de fio enrolado em um núcleo, produz um fluxo magnético nesse núcleo, de certa forma, isso é análogo a uma tensão
em um circuito elétrico que produz o fluxo de uma corrente. Dessa forma, é possível definir um circuito magnético
cujo comportamento é regido por equações análogas as de um circuito elétrico. Como no circuito elétrico, a corrente é
acionada por uma força eletromotriz, então por analogia, a grandeza correspondente no circuito magnético é denominada
força magnetomotriz (FMM). A força magnetomotriz do circuito magnético é igual
ao fluxo efetivo de corrente aplicado ao núcleo. Vamos representar a força magnetomotriz por F e é definida como
eq. 77-12
Sua unidade de medida é o ampères-espiras. Devemos salientar que a força magnetomotriz, em um circuito magnético,
também possui polaridade, sendo o terminal positivo da fonte de FMM o terminal por onde sai o fluxo e o terminal
negativo da FMM é o terminal no qual o fluxo volta a entrar. A
polaridade da FMM pode ser determinada usando os dedos da mão direita curvando-se na direção do fluxo da corrente elétrica
que entra na bobina e o polegar indicará o sentido positivo da FMM.
No circuito elétrico, a tensão faz circular uma corrente I. De forma similar, em um circuito magnético, a força
magnetomotriz F aplicada faz com que um fluxo Φ seja produzido. Além disso, no circuito elétrico
existe outro componente que é a resistência elétrica. Dessa forma, no circuito magnético, também existe a chamada
relutância magnética, representada por R , e desempenha no circuito magnético função similar à uma
resistência elétrica. Portanto, podemos escrever a relação entre essas três variáveis, ou seja
eq. 77-13
A unidade da relutância magnética é o ampère-espira por weber. Também existe uma equivalência
com a condutância elétrica (é o inverso da resistência) que é a permeância magnética,
P, e é dada pelo inverso da relutância magnética. Desta forma temos
eq. 77-14
Desse modo, baseado na eq. 77-13, podemos escrever a relação entre a força magnetomotriz
e o fluxo magnético como
eq. 77-15
Falta-nos encontrar o valor da relutância magnética e da permeância. Para tanto, vamos reorganizar os termos da eq. 77-11 de tal forma que
eq. 77-16
Comparando essa equação com a eq. 77-12 e a eq. 77-15, facilmente percebemos que o valor da
permeância magnética, P, vale
eq. 77-17
E dessa equação facilmente conseguimos o valor da relutância magnética, R , ou
eq. 77-18
Cabe ressaltar que as relutâncias em um circuito magnético obedecem às mesmas regras que as resistências
em um circuito elétrico. A relutância equivalente de diversas relutâncias em série
é simplesmente a soma das relutâncias individuais:
eq. 77-19
De modo similar, relutâncias em paralelo, combinam-se conforme a equação abaixo
eq. 77-20
Quanto à permeância magnética, as associações série e paralelo obedecem às mesmas regras das condutâncias elétricas.
Considerações Importantes
Conforme Chapman [8] (Fundamentos de Máquinas Elétricas - 5ª edição),
quando são usados os conceitos de circuito magnético em um núcleo, os cálculos de fluxo são sempre aproximados,
no melhor dos casos, eles terão uma exatidão de cerca de 95% (atenção: no livro há um erro de digitação onde esse
valor consta como 5%) em relação ao valor real. Há uma série de razões para essa falta inerente de exatidão:
O conceito de circuito magnético assume que todo o fluxo está confinado ao
interior do núcleo magnético. Infelizmente, isso não é totalmente verdadeiro. A
permeabilidade de um núcleo ferromagnético é de 2000 a 6000 vezes a do ar,
mas uma pequena fração do fluxo escapa do núcleo indo para o ar circundante,
cuja permeabilidade é baixa. Esse fluxo no exterior do núcleo é denominado
fluxo de dispersão e desempenha um papel muito importante no projeto de
máquinas elétricas.
Os cálculos de relutância assumem um certo comprimento de caminho médio e
de área de seção reta para o núcleo. Essas suposições não são realmente muito
boas, especialmente nos cantos.
Nos materiais ferromagnéticos, a permeabilidade varia com a quantidade de
fluxo que já está presente no material. Ele acrescenta outra fonte de erro à
análise do circuito magnético, já que as relutâncias usadas nos cálculos
de circuitos magnéticos dependem da permeabilidade do material.
Se houver entreferros de ar no caminho de fluxo do núcleo, a área efetiva da
seção reta do entreferro de ar será maior do que a área da seção reta do núcleo de
ferro de ambos os lados. A área efetiva extra é causada pelo denominado efeito
de espraiamento do campo magnético no entreferro de ar.
Nos cálculos, pode-se compensar parcialmente essas fontes inerentes de erro.
Para tanto, valores “corrigidos” ou “efetivos” de comprimento de caminho médio e
de área de seção reta são usados no lugar dos valores reais de comprimento e área.
Há muitas limitações inerentes ao conceito de circuito magnético, mas ele ainda
é a ferramenta de projeto mais facilmente usável que está disponível para os cálculos
de fluxo, no projeto prático de máquinas. Cálculos exatos usando as equações de Maxwell
são demasiadamente difíceis e, de qualquer forma, não são necessários porque
resultados satisfatórios podem ser conseguidos usando esse método aproximado.