Ao estudarmos campo elétrico devemos entender o conceito de carga puntual.
Entendemos por carga puntual, uma carga que pode ter polaridade positiva ou negativa
e, além disso, consideramos que toda a carga esteja concentrada em um ponto de dimensão infinitesimal,
ou seja, com dimensão desprezível.
Para estudarmos campos elétricos vamos postular um modelo de campo que descreve como as cargas interagem:
1. Algumas cargas, que denominaremos cargas-fonte, alteram o espaço ao redor de si pela
criação de um campo elétricoE→.
2. Toda carga isolada, dentro de um campo elétrico, experimenta uma forçaF→ exercida pelo campo.
Devemos resolver duas tarefas para fazer deste um modelo útil para as interações elétricas. Primeiro,
devemos aprender como calcular o campo elétrico para uma configuração de cargas-fonte.
Segundo, devemos determinar as forças exercidas sobre uma carga e o movimento da mesma dentro do campo elétrico.
Suponha que a carga q experimente uma força elétricaF→ devido a outras cargas. Assim, em cada ponto
do espaço age uma determinada força sobre a carga q. Desta forma vamos definir campo elétrico E→ conforme eq. 71-01.
eq. 71-01
Então definimos campo elétrico
como uma razão entre força e carga, de modo que a unidade de campo elétrico
é o newton por coulomb, ou N/C.
O módulo do campo elétrico é chamado de intensidade de campo elétrico.
Podemos pensar em usar uma carga de prova q para verificarmos se existe algum campo elétrico
em um determinado lugar do espaço. Se a carga q experimentar uma força elétrica naquele ponto do espaço,
dizemos que existe um campo elétrico E→
atuando naquele ponto causando a forçaF→.
Observação: perceba que a carga de prova q também produz um campo elétrico, porém
cargas não exercem forças sobre si mesmas. Sendo assim, a carga q mede apenas o campo elétrico gerado
por outras cargas.
Do que foi dito acima, conclui-se que o campo elétrico é o agente causador da força
sobre a carga q. Então, podemos estabelecer algumas ideias básicas sobre campo:
Se q for positiva, o vetor campo elétrico apontará no mesmo sentido da força elétrica exercida sobre aquela carga.
A eq. 71-01 associa um vetor a cada ponto no espaço, ou seja, o campo elétrico é um campo vetorial.
Deve ficar claro que o campo elétrico não depende da carga de prova q.
Ela é usada somente para verificar se existe um campo elétrico no local e, se possível, medi-lo.
O campo elétrico existente no local é gerado pelas cargas fontes.
Feito essas colocações podemos reescrever a eq. 71-01 de forma que a força fique em função do campo elétrico, conforme a eq. 71-02.
eq. 71-02
Essa equação permite encontrar a força sobre uma determinada carga
em um local do espaço onde o campo elétrico é conhecido.
Convenção da direção do Campo Elétrico
Convenciona-se que o sentido do vetor campo elétrico gerado por cargas obedecem o seguinte critério:
1. Se a polaridade da carga for positiva o vetor campo elétrico aponta radialmente
para "fora" da carga.
2. Se a polaridade da carga for negativa o vetor campo elétrico aponta radialmente
para "dentro" da carga.
Na Figura 71-01 podemos ver o esquema correspondente a essa convenção.
Para estudarmos a lei de Coulomb, antes vamos compreender as constantes que são usadas na equação.
A unidade de carga elétrica no SI é o Coulomb. Por outro lado, a quantidade representada pela unidade fundamental de carga,
normalmente designada pela letra "e", tem valor igual a e = 1,6 x 10-19 C.
Outra constante utilizada nos cálculos é a constante eletrostática K que em unidades SI vale
K = 8,99 x 109 N m2 / C2. Neste site adotaremos o valor
arredondado desta constante, ou seja, K = 9 x 109 N m2 / C2.
Como já foi definido no capítulo 3, referente a capacitores, temos a chamada constante de
permissividade no vácuo, εo, conhecida como épsilon zero e de valor igual a:
Existe uma relação entre a constante K e a constante εo, dada pela
equação abaixo:
eq. 71-03
Após essas definições podemos escrever a equação que define a força de interação entre duas partículas
carregadas eletricamente. Assim:
eq. 71-04
Cabe ressaltar algumas observações importantes a respeito da lei de Coulomb, enumeradas abaixo:
A força, em módulo, que a carga q1 exerce sobre q2 é exatamente igual a força
que q2 exerce sobre q1, com mesma direção porém sentido contrário.
A lei de Coulomb se aplica somente a cargas puntiformes, que é um objeto idealizado com carga e massa,
mas sem extensão ou tamanho. Se os objetos tiverem dimensão muito menor que a separação entre eles,
podemos considerá-los puntiformes.
Quando uma carga está sob a ação de diversas forças, a força resultante é a soma vetorial de todas as forças.
Exemplo 71-1
Fonte:
Problema elaborado pelo autor do site.
Sejam duas cargas, q1 = 10 µC e q2 = 20 µC separadas por
uma distância de 0,1 metro. Calcule a força elétrica entre essas duas cargas.
Solução
Como conhecemos os valores das cargas e sua distância basta aplicar a eq. 71-03, ou seja:
O campo elétrico criado por uma carga elétrica é o responsável pela existência de forças elétricas
agindo sobre outras cargas. Se isolarmos uma carga, esta não sofrerá ação de forças. Embora ela produza
um campo elétrico, ela não sofre ação do seu próprio campo. As forças entre partículas carregadas são as chamadas
ação a distância. De alguma maneira, a força se transmite através do espaço. Assim como outras forças, tais
como, a gravitacional, magnética, etc... , são forças que obedecem a lei do inverso do quadrado da distância.
Na literatura são estudados alguns modelos de campos produzidos por diferentes situações com objetos
carregados eletricamente. Iremos estudar alguns deles.
A partir das equações 71-01 e 71-03 podemos encontrar uma equação
que nos permita calcular o campo elétrico gerado por uma carga puntiforme. Se temos uma carga q1
em determinado local do espaço e estamos interessados em saber o campo elétrico produzido pela mesma,
nada mais natural que usarmos uma segunda carga, aqui designada por q2, para servir como
uma "sonda" ou "carga de prova". Então a carga q1 produzirá um campo elétrico, de tal forma que
a carga q2 experimentará uma força agindo sobre ela. Este campo está explicitado na eq. 71-01
onde F→ é a força sobre q2.
Então, usando a eq. 71-03, chegamos a equação do campo elétrico gerado por q1,
conforme a eq. 71-05.
eq. 71-05
Nesta equação estamos representando o campo elétrico como uma grandeza vetorial. Optamos por
representar a carga de uma forma genérica pela letra q. E r^ representa o vetor unitário, ou seja,
vetor de comprimento UM com orientação da origem para o ponto de interesse. Demais variáveis já são de nosso conhecimento.
Esta equação também funciona para cargas elétricas negativas, fazendo com que o sentido do vetor campo elétrico seja contrário ao
de uma carga positiva, isto é, o vetor campo elétrico aponta em direção à carga.
Como já foi dito, é importante distinguir as cargas que são as fontes de um campo elétrico daquelas que o
experimentam e que se movem sob a influência deste campo elétrico. Suponha que a fonte de um campo elétrico
seja um conjunto de cargas puntiformes q1, q2, q3, ...
Assim, o campo elétrico resultante E→res
em cada ponto no espaço é a superposição dos campos elétricos gerados
individualmente por cada carga do conjunto naquele ponto. Logo, a melhor forma de expressarmos o vetor campo
elétrico resultante é na forma vetorial, ou:
Para estudarmos o campo elétrico é mais adequado considerar a carga como sendo contínua e
descrever como ela se distribui pelo objeto. Assim, podemos ter uma distribuição linear, superficial ou volumétrica.
No caso da distribuição linear, podemos supor um objeto com o comprimento sendo a dimensão predominante e que tenha um
comprimento L. Então, se o objeto estiver eletrizado e denominarmos a carga total do objeto como Q,
podemos definir a densidade de carga linear, λ, como
eq. 71-07
A densidade linear de carga é definida como a quantidade de carga por metro
de comprimento e sua unidade é o C/m
A densidade superficial de carga, σ, é a quantidade de carga distribuída em uma
área superficial A. E sua unidade é o C/m2, ou seja, é a quantidade de carga por
metro quadrado e pode ser representada por
eq. 71-08
A densidade volumétrica de carga, ρ, é a quantidade de carga distribuída em um
volume V. E sua unidade é o C/m3, ou seja, é a quantidade de carga por
metro cúbico e pode ser representada por
Estamos interessados em calcular o campo elétrico produzido por um fio carregado
eletricamente de comprimento L, em um ponto P, situado em seu eixo de simetria,
conforme podemos ver na Figura 71-02.
Supomos uma carga dq situada em um ponto ao longo do fio e queremos calcular o campo dE
no ponto P. Vamos lembrar que dq = λ da e que r2 = x2 + a2.
Então, usando a lei de Coulomb,temos:
eq. 71-10
Esse é o valor de dE. Porém, queremos calcular o campo elétrico no eixo de simetria, ou seja,
dEx. Nesse caso, pela Figura 71-02, percebemos que
eq. 71-11
Portanto, fica claro que devemos calcular a componente de dE na direção x. Baseado
ainda na Figura 71-02, podemos escrever que
eq. 71-12
Assim, para obtermos a eq. 71-11 devemos unir a eq. 71-10 com a eq. 71-12. Como a eq. 71-11
representa apenas o diferencial do campo que queremos calcular, então para conseguirmos o valor do
campo elétrico Ex, devemos integrar a eq 71-11 desde - L até + L. Desta forma,
podemos escrever
eq. 71-13
Note que a variável de integração é a. Então podemos reorganizar a integral da seguinte maneira:
eq. 71-14
Agora vamos nos concentrar na solução somente da integral. Observe que temos, no denominador,
1 + (a/x)2 e isso nos sugere uma transformação de variáveis do tipo tangente,
pois pela Figura 71-02 vemos que tan θ = a / x . Assim, a = x tan θ.
Portanto, da = x sec2 θ dθ. Além disso, sabemos que
1 + tan2 θ = sec2 θ e fazendo a substituição no denominador encontramos
o valor de sec2 θ elevada à potência 3/2 o que resulta em
sec3 θ. Fazendo a substituição no numerador e denominador encontramos a eq. 71-15.
eq. 71-15
Mas, note que a função cosseno pode ser expressa como o inverso da função secante. Além disso, podemos tirar para fora da integral o x. Então é possível escrever:
eq. 71-16
E como a integral do cosseno é a função seno, e pela Figura 71-02 podemos verificar que sen θ = a/r = a / (a2 + x2)1/2 . Assim, substituindo esse valor na eq. 71-16 obtemos
eq. 71-17
E, finalmente, fazendo a substituição encontramos a equação final que determina o
valor do campo elétrico no eixo de simetria do fio.
eq. 71-18
Com este resultado podemos fazer algumas considerações para verificar sua validade. Note que
o numerador da eq. 71-18 representa a carga total Q = 2 λ L do fio, pois o
comprimento do fio é 2 L. Vamos tomar o limite quando x → ∞. Neste caso, x >> L
e, portanto no denominador temos x2. Logo, a equação se reduz à lei de Coulomb
para uma carga puntual o que representa um comportamento bastante razoável da equação. Por outro lado,
podemos analisar como ela se comporta fazendo o limite quando x → 0. Neste caso, a equação
se reduz a:
eq. 71-19
E esta equação é exatamente a equação que determina o campo elétrico de um fio com comprimento infinito. Logo,
a eq. 71-18 pode ser interpretada para várias situações.
Para um disco carregado eletricamente com uma densidade de carga superficial, σ, uniforme,
vamos calcular o campo elétrico que ele produz em um ponto P situado ao longo do eixo z. A situação que vamos analisar está representada na Figura 71-03.
Na figura acima temos um disco de raio R onde destacamos um elemento de carga dq
situado a uma distância r do centro do disco. E este elemento de carga dista d
do ponto P.
Para resolver este problema vamos utilizar coordenadas polares. Dessa forma, podemos escrever o
elemento de carga como dq = σ r dr dθ. Como a distância deste elemento ao ponto P é d,
então podemos escrever que d2 = r2 + z2. Com esses dados podemos utilizar
a lei de Coulomb e escrever
eq. 71-20
Como queremos calcular o campo elétrico no ponto P situado ao longo do eixo z, então
devemos calcular a componente de dE na direção do eixo z, ou seja, dEz = dE cos φ.
Logo, devemos escrever
eq. 71-21
Olhando atentamente para a eq. 71-21 percebemos que há duas variáveis infinitesimais.
Assim, devemos fazer uma integração dupla: uma em relação à r e outra em relação à θ.
Além disso, podemos expressar cos φ = z/d = z/ (z2 + r2)1/2.
Após um arranjo algébrico, obtemos a seguinte expressão:
eq. 71-22
Note que a integração em θ é trivial, pois seu valor é igual a 2 π. Logo, reorganizando os termos e retirando da integral os termos que não dependem de r, obtemos:
eq. 71-23
A resolução dessa integral também não apresenta dificuldades, pois podemos fazer uma substituição de variáveis.
Fazendo u = z2 + r2 e derivando u obtemos du = 2 r dr. Então, substituindo
esses valores na eq. 71-23 e após um arranjo algébrico, obtemos
eq. 71-24
Agora conseguimos a integração de um polinômio, onde vamos obter a seguinte expressão :
I = u-3/2 + 1 / ((-3/2) +1). Efetuando o cálculo encontramos I = -2 u-1/2.
Porém, lembre-se que u = z2 + r2. Logo fazendo as devidas substituições e
organizando os termos encontramos
eq. 71-25
E assim, após algumas simplificações, encontramos o resultado final para o campo elétrico produzido por um disco carregado
eletricamente em seu eixo de simetria, ou
eq. 71-26
De posse desse resultado, podemos fazer uma previsão do valor do campo quando z → 0.
Note que a segunda parcela que está entre colchetes, vai a zero quando multiplicamos por z.
E a primeira parcela é igual a UM, quando multiplicamos por z. Portanto, o que obtemos foi a
equação do campo elétrico em um plano infinito carregado eletricamente. Pela eq. 71-27 é fácil perceber
que o campo elétrico do plano infinito é constante.
eq. 71-27
Por outro lado, é possível fazer uma previsão do valor do campo elétrico quando z → ∞. Para isso,
vamos reescrever a eq. 71-25 e eq. 71-26 da seguinte maneira:
eq. 71-28
Olhando somente para o que está entre os colchetes, podemos fazer uma expansão pela fórmula
de Taylor. Antes vamos passar o z que está no numerador para dentro do radical e fatorando
encontramos:
eq. 71-29
Note que os números um vão se cancelar, sobrando só a fração com sinal positivo,
pois temos a multiplicação de dois sinais negativos. Assim, obtemos:
eq. 71-30
Veja que no numerador temos o produto π R2, que é exatamente a área do disco. E quando
multiplicamos a área pela densidade de carga superficial, obtemos a carga total, Q, do disco. Desta forma, o que
provamos é que quando z → ∞ o disco comporta-se como uma carga puntual e por
isso a eq. 71-30 assume a forma da lei de Coulomb.
Os capacitores possuem uma importância fundamental em circuitos elétricos, tanto em DC
como em AC. Na Figura 71-04 mostramos em esquema de como é formado um capacitor.
Observe que temos dois eletrodos, um de frente para o outro, cada um possuindo uma área, A, e distam
entre si de uma distância, d. Além disso, um dos eletrodos possui uma carga + Q e o outro
possui uma carga - Q. Esse arranjo de dois eletrodos, carregados com o mesmo valor absoluto de carga,
mas com sinais contrários, é chamado de capacitor de placas paralelas.
Cabe ressaltar que a carga total de um capacitor é nula, pois a carga do capacitor se dá através
de um meio de transferência de elétrons de uma placa para a outra. Assim, a placa que ganha elétrons adquire
carga - Q = n (- e), enquanto a que perde elétrons adquire carga + Q.
A ideia aqui é determinar o valor do campo elétrico criado em ambos os lados das placas, ou seja, entre as
placas e fora delas. Devido ao fato de que cargas opostas se atraem, todas as cargas se encontram
sobre as superfícies internas das duas placas. Portanto, as superfícies internas podem ser consideradas
como planos carregados com densidades superficiais de carga iguais e opostas.
Observe na Figura 71-05, que o campo elétrico criado pela placa com carga positiva aponta
para fora da superfície, enquanto que o campo elétrico criado pela carga negativa aponta na direção
da superfície correspondente.
É fácil perceber que os dois campos são paralelos, possuem mesma direção e sentido, e também possuem a mesma
intensidade.
Em um capacitor a distância d é muito menor que a área A das placas do capacitor. Foi estudado
no capítulo 3 que quanto maior a área das placas do capacitor e menor a distância entre elas, maior será
a capacitância do capacitor (C = ε A / d).
Voltando nossa atenção para a Figura 71-05, percebemos que para determinar o campo resultante dentro
do capacitor podemos usar o princípio da superposição. Assim, somando os dois campos temos o campo resultante e
este aponta da placa positiva para a placa negativa. Por outro lado, fora do capacitor os campos apontam em
sentidos contrários, e como vimos anteriormente, o campo de um placa de carga é independente da distância até
o plano, então eles possuem o mesmo módulo. Consequentemente, os campos se anulam fora das placas do capacitor.
Desta forma, é possível calcular o campo entre as placas do capacitor partindo do campo criado por
um plano infinito carregado, estudado no item 4.5 e definido pela eq. 71-27, mostrada
abaixo para maior clareza. Assim, o campo correspondente
a placa carregada positivamente, aponta na direção da placa negativa e possui módulo igual a
E o campo produzido pela placa negativa possui o mesmo módulo da equação acima e, também aponta da
placa positiva para a placa negativa, portanto, podemos somar os dois campos e assim obter o
campo resultante entre as placas do capacitor.
eq. 71-31
Onde σ é a densidade de carga superficial da placa e A, é a área superficial
de cada placa do capacitor.
Estamos interessados em analisar como uma partícula carregada eletricamente se comporta
quando é submetida a um campo elétrico. Para nosso estudo vamos supor que a partícula tenha massa m e possua
uma carga elétrica q. Já estudamos no item 2 que, neste caso, a partícula está sob a ação de uma
força devido ao campo elétrico e dada pela eq. 71-02, repetida abaixo:
eq. 71-02
Essa relação entre campo e força constitui a definição de campo elétrico.
Note que a força exercida sobre uma partícula negativamente carregada tem o sentido
oposto ao do vetor campo elétrico. Os sinais algébricos são importantes!
Essa força fará com que a partícula carregada acelere com uma aceleração dada por
eq. 71-32
Esta aceleração é a resposta da partícula carregada ao campo elétrico ao qual está submetida. Observe
na eq.71-32, que a razão q/m, conhecida como razão carga-massa, assume um caráter
muito importante na dinâmica do movimento de uma partícula carregada. Assim, duas partículas com mesma
carga podem sofrer acelerações diferentes se possuírem massas diferentes. Por outro lado, partículas
com cargas e massas diferentes experimentarão a mesma aceleração e seguirão a mesma trajetória,
caso possuam a mesma razão carga-massa. Além disso, podemos acrescentar que uma partícula
carregada quando se movimenta através de um campo elétrico uniforme, têm inúmeras aplicações práticas
devido à sua simplicidade de movimento, perfeitamente definida pela cinemática. Da eq. 71-32
podemos dizer que
"Toda partícula carregada eletricamente, em presença de um campo elétrico uniforme,
se deslocará com uma aceleração constante"
A trajetória básica de uma partícula carregada eletricamente em um campo elétrico uniforme, é uma
parábola, de forma análoga ao deslocamento balístico de um objeto no campo gravitacional uniforme
próximo à superfície da Terra. É importante acrescentar que para determinar a orientação da aceleração
da partícula carregada devemos determinar o vetor campo elétrico. Devemos ficar atento ao fato que
se lançarmos a partícula carregada paralelamente ao vetor campo elétrico, o movimento
será unidimensional.
Em muitos equipamentos que utilizam um tubo de raios catódicos, tais como televisores,
monitores de computador, osciloscópios, etc ..., são usados eletrodos paralelos para acelerar
partículas carregadas. A Figura71-06 mostra um esquema interno de um CRT (tubo de raios catódicos).
Observe que temos um filamento que após atingir uma determinada temperatura libera elétrons. Estes, por sua vez,
são acelerados por um outro (denominado screen) que possui um orifício no centro
para permitir a passagem do feixe de elétrons. Esse feixe de elétrons atinge uma grande velocidade,
podendo chegar a 10% da velocidade da luz. Esse conjunto de eletrodos recebe o nome de
canhão de elétrons.
Existe mais dois conjuntos de eletrodos paralelos. Um deles é chamado de placas defletoras verticais (mostrado na
Figura71-06) e o outro de placas defletoras horizontais (não mostrado na
Figura71-06), ambos encarregados de produzir um deslocamento vertical e horizontal do feixe de elétrons.
Após deixar as placas defletoras, o feixe de elétrons se desloca (através do vácuo,
a fim de não haver colisões com as moléculas de ar) diretamente para a tela do tubo de raios catódicos,
onde o elétron colide com um revestimento de fósforo sobre a superfície interna da tela, produzindo
ali um ponto luminoso. A tela é alimentada por uma fonte de altíssima tensão elétrica, a fim de
atrair o feixe de elétrons. Ajustando-se adequadamente os valores do campo elétrico entre as placas defletoras,
através da variação de Vd,
os elétrons serão direcionados para qualquer ponto da tela.
Exemplo 71-2
Fonte:
Exemplo 27.9 - pag. 837 - KNIGHT, Randall D. -
Livro: Física - uma abordagem estratégica - 2ª edição - Ed. Bookman - 2009.
Um canhão de elétrons gera um feixe de elétrons que se move horizontalmente com velocidade
de 3,3 x 107 m/s. Os elétrons percorrem um espaço vazio de 2,0 cm
de largura entre dois eletrodos paralelos, onde o campo elétrico vale 5,0 x 104 N/C
orientado para baixo. Em que orientação (ângulo e sentido) o feixe de elétrons é desviado por esses eletrodos?
Solução
No enunciado do problema está dito que o campo elétrico tem orientação para baixo. Isto, por si só,
leva-nos a concluir que a placa defletora superior está carregada positivamente e,
consequentemente, a placa defletora inferior está com carga negativa. Assim, o feixe de elétrons,
que possui carga negativa, será atraída pela placa com carga positiva. Então, o feixe de elétrons fará
uma curva parabólica com orientação para cima.
Observe, pela Figura 71-07, que o feixe de elétrons possui uma velocidade inicial horizontal de
voH = 3,3 x 107 m/s e não possui velocidade inicial vertical, ou seja,
voV = 0 m/s. Portanto, o feixe de elétrons ao passar entre as placas defletoras,
vai manter a velocidade horizontal constante, pois não há forças horizontais atuando sobre o feixe. Porém,
isso não acontece na direção vertical, pois as placas defletoras exercem forças verticais sobre o
feixe de elétrons. Neste caso, o feixe de elétrons vai adquirir uma aceleração na vertical e, consequentemente,
sua velocidade final, na vertical, será diferente de zero. Assim, devemos calcular essa aceleração e, para isso,
vamos utilizar a eq71-32. Dessa forma, substituindo pelos valores numéricos, e lembrando que a massa do
elétron é igual a me = 9,11 x 10-31 Kg, encontramos
aV = (1,60 x 10-19)(5,0 x 105) / 9,11 x 10-31 =
8,78 x 1015 m/s2
Como foi afirmado anteriormente, a velocidade horizontal é constante e, por esse fato, podemos calcular o tempo
que o elétron leva para percorrer os 2,0 cm de largura dos eletrodos. Então
t = L / voH = 2 x 10-2 / 3,3 x 107 = 6,06 x 10-10 s
Como conhecemos a aceleração vertical do feixe de elétrons, podemos calcular a velocidade vertical que o feixe
vai ganhar ao passar por entre os eletrodos no tempo t, lembrando que a velocidade vertical inicial é zero.
Logo
voV = aV t = 5,32 x 106 m/s
Devemos estar atentos ao fato que embora o feixe tenha ganhado uma velocidade vertical, ele continua com a
mesma velocidade horizontal, pois essa não é afetada ao passar entre os eletrodos.
Então, a velocidade final é uma composição de duas velocidades: uma horizontal e outra vertical. Logo,
podemos escrever a velocidade final em sua forma cartesiana, como abaixo:
vfinal = 3,3 x 107 î + 5,32 x 106 ĵ m/s
Também é possível escrever a velocidade final em sua forma polar. Para isso devemos calcular o módulo e o
ângulo de desvio do feixe. Para calcular o módulo, basta usar o teorema de Pitágoras. E para o ângulo de desvio
temos
θ = tg-1 voV / voH = +9,16°
Então na forma polar, obtemos:
vfinal = 3,34 x 107 ∠ +9,16° m/s
Observe que o valor positivo do ângulo de desvio já indica que a orientação de desvio do feixe é para cima.
Também é importante entender que após o feixe de elétrons atravessar os eletrodos não existem forças atuando
sobre o feixe e ele segue uma trajetória retilínea a partir desse ponto, como é mostrado na Figura71-07.
A lei de Gauss e a lei de Coulomb são equivalentes no sentido de que uma pode ser derivada da outra.
Na prática, a lei de Gauss permite determinar alguns campos elétricos estáticos que seriam muito difíceis
de se obter a partir da lei de Coulomb. Por sua vez, a lei de Gauss é mais geral, uma vez que se aplica não
somente à eletrostática, mas também à eletrodinâmica dos campos variáveis com o tempo. A lei de Gauss,
para ser aplicada, depende muito da simetria do problema em questão. Assim, pode haver simetria cilíndrica,
esférica, etc ... Na eletrostática, podemos dizer que uma dada distribuição de carga é simétrica
se existir um grupo de transformações geométricas que não causem nenhuma alteração física.
Na literatura, frequentemente temos a intensidade do campo elétrico associado a uma determinada
quantidade de linhas de campo. Essas linhas podem sair da carga, se ela for positiva, ou podem estar orientadas
em direção à carga, se esta for negativa. O fluxo elétrico está associado ao número de linhas de campo que
atravessam determinada área, A, da superfície considerada.
Para entendermos o conceito de fluxo elétrico, vamos imaginar uma espira condutora de formato retangular
que apresente uma área A = a b, onde a e b são as dimensões dos lados da espira, e que
esteja imersa em um campo elétrico uniforme, conforme mostra a Figura 71-08.
"Vamos definir fluxo elétrico como a quantidade de campo elétrico que atravessa a área efetiva da espira."
Sendo que a área efetiva da espira é dada por Aef = A cos θ = a b cos θ.
Devemos prestar atenção ao fato que o ângulo θ é o ângulo de inclinação do eixo da espira
em relação ao campo magnético. Dessa forma, vamos definir um vetor área,
A→ = A n^,
com a direção de n^, ou seja, perpendicular à superfície da espira e com módulo
igual a área A da superfície. Se o campo elétrico é uniforme, então podemos escrever o
fluxo elétrico como o produto escalar entre o vetor campo e o vetor área.
Assim, isso pode ser escrito como mostra a eq. 71-33.
eq. 71-33
Observe que pela equação acima, se o vetor campo e o vetor área forem perpendiculares entre si,
o fluxo total será nulo, como fica explícito na Figura 71-08. Pelo que foi estudado até agora,
podemos extrair as seguintes conclusões:
Existe um fluxo para fora através de uma superfície fechada em torno de uma carga líquida positiva.
Existe um fluxo para dentro através de uma superfície fechada em torno de uma carga líquida negativa.
Não existe um fluxo resultante através de uma superfície fechada em torno de uma região do espaço na qual
a carga líquida seja nula.
No item anterior, nossas considerações foram com respeito a um campo elétrico uniforme ao longo
de uma superfície. Neste item vamos analisar o caso quando o campo elétrico não é constante, ou seja, pode variar ao longo da superfície. Uma das maneiras de se calcular o fluxo elétrico na superfície, é dividi-la em pequenas áreas e depois calcular o fluxo em cada uma delas. E para determinar o fluxo total basta encontrar o somatório dos fluxos de cada pequena área. Porém, a matemática nos fornece uma poderosa ferramenta para resolver este somatório, utilizando o cálculo. Para tal, vamos definir uma pequena área por dA. Assim, fazendo essas pequenas áreas de tamanho infinitesimal, haverá uma quantidade infinita delas ao longo da superfície total.
Dessa forma, o somatório pode ser transformado em uma integral, e o fluxo do campo elétrico
através da superfície total pode ser expresso como:
eq. 71-34
A integral que aparece na eq. 71-34 é conhecida como integral de superfície. A lei de Gauss
estabelece uma relação entre o fluxo de campo elétrico através de uma superfície fechada e as cargas que estão
no interior dessa superfície. Observe que, se dentro da superfície considerada não houver cargas o
fluxo elétrico na superfície é NULO.
Para entender como a lei de Gauss relaciona o fluxo do campo elétrico no interior de uma superfície
gaussiana com a carga no interior dessa mesma superfície, escolhe-se uma superfície qualquer
com uma carga Q em seu interior, como por exemplo a superfície mostrada na Figura 71-09.
Escolhemos uma superfície gaussiana como, por exemplo, uma esfera de raio r e que envolve
totalmente a carga Q. Neste caso, o fluxo elétrico através dessa superfície esférica é dada
pela eq. 71-34. Supondo Q como uma carga positiva, vemos na Figura 71-09 o campo
elétrico saindo radialmente da superfície. O mesmo acontece com o vetor dA.
Assim, o produto vetorial transforma-se em um produto dos módulos. Como |E| é constante
na superfície da esfera, é possível retirá-lo para fora da integral. E, naturalmente, que a integral
de superfície de uma esfera é a área da superfície esférica, igual a 4 π r2.
Logo, podemos escrever o fluxo elétrico como:
eq. 71-35
Fazendo as devidas simplificações na eq. 71-35, podemos escrever a lei de Gauss na forma integral, para uma superfície fechada, como:
eq. 71-36
A eq. 71-36 é válida inclusive se no interior da superfície considerada houver mais de uma carga, pois nesse caso,
podemos usar o princípio da superposição. Assim, o valor de qint será igual ao somatório das
cargas internas à superfície.
Para expressarmos a lei de Gauss em sua forma diferencial devemos aplicar o divergente ao campo e explicitarmos
a carga interna em função da densidade de carga volumétrica, ρ. Depois, aplicando o teorema de Stokes
conseguimos a forma diferencial, como mostra a eq. 71-37.