5 - Funcionamento do Transformador em D.C.clique aqui!
Para começar nosso estudo sobre transformadores, vamos definir o que é um transformador ideal.
Transformador ideal - é o transformador onde não há energia acumulada no campo magnético (perdas no ferro é nula),
não há indutância, o fio não apresenta resistência (perdas no cobre é nula) e o coeficiente de acoplamento entre as bobinas é unitário.
No transformador ideal a potência de entrada é igual a potência de saída.
Ao enrolamento onde aplicamos a fonte de tensão chamamos de PRIMÁRIO e o enrolamento onde conectamos a carga chamamos de SECUNDÁRIO.
Normalmente representamos o número de espiras do primário por N1 e o número de espiras do
secundário por N2, conforme pode ser visto na Figura 91-01, onde representamos um transformador
em seu formato didático.
Observe que na construção do transformador não há contato direto entre o primário e o secundário. São circuitos completamente independentes.
Também não pode existir contato elétrico entre os fios que compõem os enrolamentos e o núcleo de ferro. Devem estar isolados entre si.
Para o funcionamento do transformador devemos aplicar uma tensão senoidal ou cossenoidal ao primário,
V1, (atenção: transformadores não funcionam com corrente contínua, ou CC) e esta tensão vai gerar um
fluxo variável no núcleo de ferro. Este fluxo variável, que percorre todo o núcleo de ferro, induzirá uma tensão, V2,
no enrolamento secundário (lei de Faraday Veja aqui!).
Conhecendo o valor de V1, a tensão V2 no secundário depende apenas da chamada relação
de transformação dada pela razão entre o número de espiras que compõem o primário e secundário, conforme a eq. 91-01,
abaixo. Então, se N1 > N2 dizemos que o transformador é um
abaixador ou redutor de tensão. Caso contrário, ou seja, se temos N1 < N2,
então dizemos que o tranformador é um elevador de tensão.
Na Figura 91-02 apresentamos o esquema de um transformador.
Onde as variáveis são:
V1 - Tensão elétrica aplicada ao primário do transformador
V2 - Tensão elétrica retirada no secundário do transformador
I1 - Corrente elétrica no primário do transformador
I2 - Corrente elétrica no secundário do transformador
N1 - Número de espiras do primário do transformador
N2 - Número de espiras do secundário do transformador
ZL - Carga ligada ao secundário
P1 - Potência entregue ao primário do transformador
P2 - Potência entregue à carga
Um importante parâmetro do transformador é a chamada relação de transformação, que é definida como a relação entre N1 e N2 e representada pela letra a, dada por:
eq. 91-01
Por outro lado, há uma relação direta entre as tensões no transformador e a relação de transformação,
dada por:
eq. 91-02
E como foi dito anteriormente, as potências de entrada e saída no transformador ideal são iguais, ou seja,
P1 = P2 = V1 I1 = V2 I2.
Então, isto permite escrever que:
eq. 91-03
Essas relações matemáticas são de fundamental importância para o entendimento do funcionamento de um transformador.
No estudo de transformadores podemos trabalhar com a chamada reflexão de impedância. Isto é, podemos refletir a impedância do primário para o secundário e vice-versa. Depende da conveniência de um ou de outro. Vamos analisar como se faz essas reflexões.
3.1. Reflexão do Secundário para o Primário
A impedância do secundário pode ser calculada como a razão entre a tensão e a corrente do secundário. Referindo-nos ao circuito acima, podemos escrever que:
Zs = V2 / I2 = ZL
Mas pela eq. 91-03 sabemos que V1 = a V2 e
I1 = I2 / a. Assim, calculando a impedância que o circuito oferece ao primário, encontramos:
Zp = V1 / I1 = a V2 / (I2 / a) = a2 ZL
Ou seja, quando refletimos a impedância do secundário para o primário devemos multiplicar a impedância do secundário pelo quadrado da relação de transformação. Em resumo:
Assim como refletimos a impedância do secundário para o primário, podemos refletir a do primário para o secundário.
Da eq. 91-03 concluímos que I2 = a I1 e
também V2 = V1 / a. Então, calculando a impedância que o
circuito oferece ao secundário, encontramos:
Concluímos que quando refletimos a impedância do primário para o secundário, devemos dividir a impedância do primário
pelo quadrado da relação de transformação. Em resumo:
Prestando atenção à Figura 91-01, percebemos que os enrolamentos do transformador estão assentados sobre um núcleo
de ferro-silício. Isto é devido ao fato que o ferro-silício possui uma alta permeabilidade magnética e origina um forte
fluxo magnético através do núcleo que envolve os dois enrolamentos (primário e secundário) do transformador. Com isso, obtemos
uma forte interação entre os dois enrolamentos e podemos considerar um coeficiente de acoplamento unitário entre eles. Nesse caso,
podemos usar a Lei de Faraday, conforme estudamos no capítulo 75
(veja aqui!) e podemos reescrever a eq. 75-13, da seguinte forma:
eq. 91-06
Sabemos que em um transformador ideal as resistências dos enrolamentos são iguais a zero. Neste caso, podemos dizer que a tensão
induzida é igual à tensão aplicada ao enrolamento, ou seja, E1 = V1. Normalmente um transformador é alimentado
por uma tensão do tipo senoidal. Então podemos definir E1 = V1 = Vmax sen (ω t).
Baseando-nos nas definições acima e fazendo um trabalho algébrico na eq. 91-06 podemos escrever a eq. 91-07.
eq. 91-07
Como nosso interesse é calcular o fluxo magnético ,Φ, a partir da eq. 91-07 facilmente encontramos o valor do fluxo integrando essa equação e obtendo:
eq. 91-08
Uma outra forma de escrevermos o fluxo magnético é através da eq. 91-09, onde usamos o fato que
- cos x = sen (x - 90°). Então:
eq. 91-09
Onde Φm representa o fluxo magnético máximo e que pode ser expresso pela
eq. 91-10. Cabe salientar que o fluxo magnético, conforme a eq. 91-09, está 90° atrasado
em relação à tensão aplicada. Isso fica mais claro ao observar a Figura 91-03, abaixo.
eq. 91-10
Na eq. 91-10 usamos a conhecida relação ω = 2 πf. Note que o fluxo magnético é
diretamente proporcional à tensão aplicada e inversamente proporcional à frequência. Normalmente pretendemos manter
o pico do fluxo constante para utilizar totalmente o circuito magnético. Isso significa que mudanças na tensão ou
frequência devem ser feitas para que a relação entre tensão e frequência
seja mantida. Assim, se duplicamos a tensão aplicada, então para manter o fluxo constante devemos duplicar a frequência
da tensão. Isso é o que mostra a Figura 91-03.
Muitas vezes, em problemas, conhecemos o valor do fluxo e queremos o valor da tensão induzida. Para isso,
basta trabalhar algebricamente a eq. 91-10, obtendo:
eq. 91-11
Em projeto de transformadores é usual se utilizar a tensão induzida em seu valor eficaz e não em seu valor
máximo ou de pico. Como aprendemos no capítulo 52, para transformar tensão máxima para tensão eficaz,
basta dividir o valor a tensão máxima por √2. Veja aqui!
Então o valor eficaz de V1 é dado pela eq.91-12.
eq. 91-12
De forma similar podemos encontrar o valor eficaz de V2, sendo dado pela eq.91-13.
No estudo de transformadores, é fundamental que o aluno sempre tenha em mente a afirmação abaixo.
"Um transformador não pode funcionar em D.C."
O porquê dessa afirmação é muito simples. Vamos nos referir à eq. 91-06, a qual explicita que para haver
tensão induzida, obrigatoriamente, devemos ter uma variação de fluxo magnético. E, como sabemos, uma tensão D.C.
não consegue gerar uma variação de fluxo magnético quando alimenta o enrolamento de um transformador. Como consequência, haverá
a produção de um campo magnético constante. Dessa forma, nenhuma fem será induzida quer no primário, quer no secundário.
Além disso, caso uma tensão D.C. seja aplicada ao enrolamento primário do transformador, circulará uma alta corrente
pelo enrolamento, pois não há uma tensão induzida que reduza a corrente circulante pelo transformador. Nesse caso, haverá um aumento
substancial da temperatura do enrolamento e, consequentemente, a queima do isolamento.